A vulnerabilidade como instrumento de liderança

Por João Costa, Country Manager da Expense Reduction Analysts

Quais os líderes que o inspiram? Steve Jobs, Bill Gates, Alfred Sloan… Estes talvez possam ser alguns nomes da lista. Empreendedores, donos de multinacionais, pessoas que construíram um império. É natural que se sinta inspirado por eles.

Para mim, um exemplo perfeito de liderança é o Papa Francisco. Um dos líderes que mais admiro é o chefe máximo da Igreja Católica. Eleito em 2013, os seus níveis de popularidade junto da população são semelhantes (se não superiores) aos de um dos seus antecessores mais populares, o Papa João Paulo II. O Papa Francisco é um líder espiritual e moral de grande relevo, que se tem destacado pela humildade, pela preocupação com os pobres e excluídos e pela determinação em promover a paz e a justiça em todo o mundo.

Um dos aspetos mais admiráveis do atual Papa é a sua capacidade de comunicar com todos de maneira acessível e compreensível, independentemente da sua fé ou crença. Usa a sua plataforma como líder da Igreja Católica para denunciar injustiças e desigualdades e para chamar a atenção para as necessidades dos mais vulneráveis. Além disto, o mesmo tem sido um defensor ativo da proteção do meio ambiente e da luta contra as mudanças climáticas. Tem usado a sua voz para alertar sobre os perigos da exploração desenfreada dos recursos naturais e da falta de cuidado com o planeta, e tem incentivado as pessoas a adotarem práticas mais sustentáveis.

Outra característica que torna o Papa Francisco um líder tão admirado é a sua disposição em ouvir e criar uma conexão com os outros. Tem feito viagens pelo mundo, visitando comunidades pobres e desfavorecidas, colocando-se ao lado dos mais necessitados. Os seus anos enquanto pontífice são marcados pela coragem, pelo humanismo e pela tolerância, mas também pela visão estratégica, o que tem permitido aproximar a população agnóstica e não praticante de uma Igreja cujos ideais se encontram desajustados da atualidade.

Apesar da idade e dos problemas de saúde, tem feito um esforço grande por cumprir todas as suas responsabilidades, bem como acompanhar as situações sociais e económicas dos vários países. Recentemente, num discurso em que abordava o tema da guerra do leste da Europa, o Papa Francisco acabou por chorar em público, mostrando que é da fragilidade que se constroem os mais fortes perfis de liderança. Nas suas palavras, “Existem aflitos para consolar mas, às vezes, existem também consolados para afligir, para despertar, que têm um coração de pedra e desaprenderam a chorar. Despertar quem não sabe comover-se com a dor dos outros”.

Numa organização, a capacidade de o líder gerar empatia, de se conectar com os colaboradores e, por outro lado, de se permitir mostrar vulnerável, é um instrumento fundamental para gerar confiança. Através da empatia, e com uma boa dose de humildade, os gestores podem tornar-se verdadeiros líderes, servindo de inspiração para os seus colaboradores. Mas nada disto vem apenas das palavras e do relacionamento: também é preciso que haja assunção da responsabilidade e uma elevada capacidade de comunicação. Tudo características que podemos encontrar no sumo pontífice.

Nos últimos anos, o Papa Francisco tem promovido a abertura da Igreja ao diálogo e à sociedade atual, tendo iniciado um processo de reflexão à escala mundial sobre os desafios da Igreja – o caminho sinodal. Utiliza a sua posição para encontrar soluções pacíficas e influenciar outros grandes líderes, não se inibindo de transformar a sua própria “organização”. Tem a postura de um verdadeiro líder e a personalidade e características para inspirar e fazer mover multidões. No fundo, não é isto a que todos os líderes aspiram?

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