A Inteligência Artificial veio para ficar – connosco lado a lado

Opinião de Guilherme Ramos Pereira, Head of Strategic Development na 99x Portugal

Executive Digest
Julho 21, 2025
13:23

Por Guilherme Ramos Pereira, Head of Strategic Development na 99x Portugal

Esta não é a primeira vez que a tecnologia nos faz ‘tremer’. Quando me iniciei no mundo do outsourcing, em 2008, a desconfiança em relação à proposta de valor da consultoria tecnológica era enorme, mas os benefícios, como a redução de custos, a otimização de processos e o acesso ágil a talento altamente especializado, eram claros, e, no fim, o mercado adaptou-se.

Agora voltaram tempos de grande disrupção (inovação!), com a necessidade de capacitar organizações, formar decisores, preparar profissionais com novas competências e cultivar uma cultura empresarial aberta à mudança. E, uma vez mais, é preciso aceitar a transformação e moldarmo-nos a ela.

Sendo fenómenos permanentes, têm picos cíclicos, enquanto fases de aceleração em que tudo parece mudar de uma só vez – e a chegada da Inteligência Artificial é um desses momentos. Tal como aconteceu com a Cloud e Mobile, e com o próprio Outsourcing, é mais um ciclo a que temos de responder com inteligência, visão e capacidade de adaptação.

Mas o que será feito de nós com a IA?

Vejo, e ouço, essa inquietação. Empresas que ‘vivem de’ perfis técnicos dedicados ao desenvolvimento de software estão a repensar modelos de negócio, e os que sempre viveram a programar questionam o que farão num futuro onde a IA tudo fará, sozinha e em segundos. E parte dessa ansiedade tem razão de ser. Sim, há uma disrupção real a acontecer.

Como sempre se recomenda nestes ‘picos’, é preciso olhar para lá do ruído. A IA vai automatizar tarefas? Vai. Vai substituir algum trabalho feito por humanos? Também. Mas isso significa o fim da consultoria tecnológica? Não me parece mesmo…

Após liderar a Portugal Outsourcing num período de intensa transformação tecnológica, alarguei horizontes e, em 2018, mergulhei no mundo da Ciência de Dados e da Inteligência Artificial como diretor executivo da Data Science Portuguese Association. Nesta organização pioneira, promovemos a literacia em IA, definimos um código de ética para o setor e criámos certificações essenciais para os profissionais. Levámos conhecimento a decisores, empresas e jovens, demonstrando um compromisso com o futuro.

Este meu percurso, do outsourcing à IA, é hoje um ativo valioso na empresa onde trabalho, que integra dados e Inteligência Artificial com foco no negócio, na ética e na capacidade de execução.

Há dias, lia num artigo de uma voz respeitada do setor: “A próxima década não será apenas sobre IA que executa tarefas, mas sobre inteligência que colabora, aprende e expande os limites do possível.” E não posso estar mais de acordo. Mas também é imperativo que não percamos de vista que estamos perante um novo paradigma. Henry Kissinger alertava para a dimensão existencial desta mudança, lembrando que a IA não transforma apenas como trabalhamos, mas também como pensamos, decidimos e nos relacionamos com o conhecimento.

E é porque a tecnologia avança a uma velocidade que desafia estruturas sociais, éticas e filosóficas, que o verdadeiro papel das consultoras tecnológicas tem de ser o de ajudar organizações e sociedade a atravessar este momento com visão, responsabilidade e humanidade.

É preciso viver esta transição de forma muito atenta e integrada: em vez de a olharmos como um risco, abraçarmos como aliada. Os clientes continuam a precisar de soluções personalizadas e de tecnologia que resolva problemas reais, e isso ainda não vem em forma de chatbot. Requer visão, contexto, capacidade de decisão. Requer pessoas.

O papel das consultoras está, sim, a mudar. A IA, por mais poderosa que seja, ainda não compreende desafios regulatórios nem transforma visões de negócio em soluções com impacto. Mas nós conseguimos – com equipas especializadas, ágeis, multiculturais, que dominam as ferramentas e, acima de tudo, o como e porquê usá-las.

Estamos numa nova fase: aquela em que o valor não está apenas em programar bem, mas em pensar bem sobre o que programar. Em combinar IA com experiência humana. Em criar soluções que juntem automação com criatividade, dados com empatia. Isso exige consultores mais estratégicos, mais conscientes, mais próximos do negócio. Mais lado a lado. E é isso que estamos a construir.

Aliás, tudo isto faz-me lembrar aquele momento inicial, quando era preciso explicar o que era o outsourcing tecnológico. Hoje, voltamos a explicar, mas com outra bagagem, com provas dadas e com entusiasmo renovado. Sim, o jogo mudou. E nós também.

A Inteligência Artificial veio para ficar. Connosco. Co-criando um futuro mais inteligente e mais humano.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.