Energy Starter: como a EDP liga inovação global ao seu negócio

O programa Energy Starter é hoje a principal porta de entrada para startups tecnológicas no universo EDP.

Executive Digest
Agosto 1, 2025
11:32

Desde há nove anos, a EDP tem vindo a apostar no programa Energy Starter como uma forma estruturada de trazer inovação para dentro da organização. Trata-se de um programa de inovação aberta, desenhado para identificar startups tecnológicas em diversas regiões do mundo, com soluções disruptivas que possam ser aplicadas, de forma rápida e eficaz, nas várias áreas da empresa. Tomás Moreno, director do Ecossistema de Inovação da EDP, explicou à Executive Digest como funciona este mecanismo, os desafios envolvidos e de que forma esta abordagem evoluiu ao longo dos anos.

«O Open Day é uma consequência natural da nossa política de inovação aberta», começa por contextualizar, a propósito do evento realizado no final de Maio, em Lisboa, que juntou as diversas startups em competição. «Assumimos que não sabemos tudo e, por isso, vamos procurar lá fora as melhores soluções, tecnologias, produtos e tecnólogos. Acreditamos que, sempre que encontramos um problema, há alguém no mundo que já se deparou com ele e está a trabalhar sobre isso, muitas vezes com foco exclusivo. Trabalhar com essas pessoas é muito mais eficiente do que começar do zero.»

Essa procura activa de soluções inovadoras resultou na criação de programas de ligação com startups, entre os quais o Energy Starter se destaca. «Fazemos uma procura global com base em temáticas que são relevantes para o negócio, mas deixamos sempre espaço para sermos surpreendidos. As startups candidatam-se e depois seleccionamos um grupo mais restrito que entra no programa.»

Ao contrário do que acontece em muitas iniciativas de empreendedorismo, este não é um programa de aceleração clássico. «Não estamos aqui para ajudar as startups a fazer o seu plano de negócios ou marketing. São empresas que já têm maturidade, são scale-ups. O nosso objectivo é acelerar a sua integração dentro da empresa. O que poderia demorar anos – ou nunca acontecer – tentamos fazer em poucos meses.»

A entrada no programa tem critérios muito claros: «A startup tem de ser pilot ready, ou seja, ter uma tecnologia real que possamos testar. Não pode ser apenas uma ideia. Além disso, tem de estar ligada ao nosso negócio e apresentar um grau de disrupção e impacto relevante.»

A ligação às áreas de negócio da EDP é feita de forma estruturada, através de projectos-piloto concretos. E quando esses pilotos funcionam, há um caminho traçado para a integração comercial. Um exemplo que Tomás Moreno destaca é o da Hepta, uma startup da Estónia que desenvolveu uma solução de monitorização de linhas de distribuição com recurso a drones. «Antes usávamos helicópteros para esse trabalho. Com esta solução conseguimos fazê-lo de forma mais rápida, mais barata e com menos risco humano. Também tem um impacto positivo em termos de descarbonização, com menos consumo de combustíveis fósseis.» O processo começou com um piloto, que correu bem, e avançou para uma consulta ao mercado. «A Hepta foi seleccionada e hoje cobre metade das nossas necessidades nesse serviço, com tendência para crescer.»

DA IDEIA À INTEGRAÇÃO

A transição de piloto para integração comercial nem sempre é linear. «Na inovação nunca há garantias», afirma o responsável. «O que tentamos fazer é trabalhar em dois tempos: quando fazemos o scoping do piloto, já estamos a pensar no rollout. Isso permite-nos identificar desde logo se há algum entrave à escala, como por exemplo uma questão de preço. Assim conseguimos acelerar o processo e evitar surpresas.»

A própria execução do piloto exige esforço e alinhamento dentro da organização. Um dos principais desafios é conseguir a atenção das unidades de negócio. «O grande obstáculo é garantir que temos a banda larga dos especialistas. Precisamos que disponibilizem os seus activos – sejam redes, parques eólicos ou solares – para podermos testar a tecnologia. Mas estas equipas estão focadas nos objectivos trimestrais ou anuais. É difícil mobilizar recursos para algo cujo impacto só se verá a médio prazo.»

A forma de ultrapassar esse desafio é através da construção de confiança. «Trabalhamos com iterações de sucesso. Cada vez que levamos uma nova solução, garantimos que já passou por uma triagem cuidada, para não fazer perder tempo a ninguém. Se a experiência for positiva, torna-se mais fácil ganhar atenção da próxima vez.»

Segundo Tomás Moreno, programas como o Energy Starter ajudam muito neste processo porque estruturam e calendarizam o envolvimento. «Conseguimos dizer, logo no início do ano, em que momentos vamos precisar do tempo das unidades de negócio. E garantimos que todas as startups em análise são relevantes para elas. Assim, o tempo é bem aplicado e o compromisso é mais fácil de obter.»

O programa, na sua forma actual, conta nove anos, mas resulta de uma evolução mais longa. «Começámos há 15 anos com um prémio de inovação. Era o típico prémio para ideias, em que o vencedor recebia algo simbólico e depois tentávamos perceber se havia forma de aproveitar a ideia. Mas percebemos rapidamente que muitas dessas propostas estavam numa fase demasiado inicial, e muitas nem sequer se aplicavam à nossa indústria.»

Seguiu-se uma fase de incubação, com um esforço para apoiar ideias e ajudá-las a chegar ao chamado MVP – o produto minimamente viável. «Criámos uma rede de incubadoras em Portugal, Espanha e Brasil. A ideia era não obrigar as startups a vir para Lisboa. Podiam trabalhar de onde estavam. Mas também aí percebemos que o retorno era limitado. O que precisávamos era de soluções pilot ready, que pudessem ser aplicadas de imediato no negócio.»

Essa constatação levou à fase seguinte: um programa global focado em startups mais maduras. «Começámos a fazer sourcing global, já não só no nosso “quintal”. E depois fizemos outra mudança: em vez de centralizar tudo num só evento, passámos a fazer três módulos por ano, alinhados com a cadeia de valor da EDP: um módulo de geração renovável, outro de redes e outro de soluções para clientes. Cada módulo tem uma call específica, com hunting zones definidas, e tudo é mais direccionado.»

Esse foco trouxe ganhos de eficiência. «Temos as unidades de negócio certas a avaliar startups que são directamente relevantes para elas. E isso aumenta a probabilidade de conversão em pilotos e em rollouts comerciais.»

INOVAÇÃO SEM FRONTEIRAS

A divulgação internacional do programa é feita de várias formas. «Já temos reconhecimento global. No ecossistema de inovação para energia e cleantech, o nome Energy Starter já é conhecido. Depois, temos uma rede de aceleradoras e parceiros com quem trabalhamos, que ajudam a difundir as nossas chamadas. E temos ainda equipas que fazem prospecção activa, identificando startups relevantes e convidando-as directamente a candidatar-se.”

Em termos geográficos, a EDP tem presença consolidada na Europa Ocidental, América do Norte e Brasil. «Temos um hub de inovação no Brasil, que funciona bem. Na Ásia estamos agora a crescer. Com o novo escritório em Singapura, fizemos já um programa lá e temos recebido muito interesse, até com apoio das autoridades locais. A Índia é uma geografia superdinâmica e estamos a trabalhar para marcar mais presença. Israel também é uma prioridade – talvez o ecossistema mais dinâmico do mundo, a seguir ao Silicon Valley.»

O envolvimento com parceiros é feito de forma informal, mas eficaz. «Hoje em dia não se perde tempo com protocolos formais. O que interessa é a confiança mútua e a capacidade de gerar valor para todos. As aceleradoras sabem que, se recomendarem startups para o Energy Starter, estas têm uma probabilidade real de desenvolver negócio.»

Para quem pretende entrar no programa, o conselho é claro: «Tem de ser uma solução pronta a testar e que resolva um problema real. Não queremos soluções à procura de um problema. E buzzwords não nos interessam. Dizer que trabalham com inteligência artificial não basta. A questão é: que problema estão a resolver? E a AI é apenas uma ferramenta para isso.»

Há também um impacto interno menos visível para o público em geral, mas crucial para a EDP. «Estes programas ajudam a espalhar uma cultura de inovação dentro da empresa. Mostram que há abertura, que se apostam em soluções externas, que se ouvem ideias. E isso estimula os colaboradores a estarem atentos ao que pode ser melhorado à sua volta. Mesmo que nós, na inovação, trabalhemos mais com disrupção, a inovação incremental também é essencial. E deve estar presente nos 12 mil colaboradores, não só nas equipas dedicadas.»

Por fim, Tomás Moreno reforça a importância do Open Day, que é a face visível do programa para o exterior: «É um momento de partilha com a comunidade. Estão presentes outras empresas, startups, investidores, aceleradoras, concorrentes. Mostramos o que estamos a fazer, devolvemos conhecimento ao ecossistema e damos palco às startups. Isso ajuda também a atrair novas candidaturas, porque o que fazemos é conhecido e valorizado. No fundo, é um círculo virtuoso que queremos continuar a alimentar.» » Tomás Moreno, director do Ecossistema de Inovação da EDP

Este artigo faz parte da edição de Junho (n.º 231) da Executive Digest.

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