Veículos Autónomos, o Futuro da Mobilidade Urbana?

Por Lucas Montenegro, Especialista em políticas e regulação de transportes na TIS

A mobilidade urbana irá experienciar uma revolução com a introdução dos veículos autónomos. Estes veículos, equipados com tecnologias avançadas como inteligência artificial, sensores de alta precisão e sistemas de comunicação Vehicle-to-Everything (V2X), prometem transformar a forma como nos deslocamos nas cidades. Mas o que significa esta mudança para o cidadão comum?

Os veículos autónomos apresentam vários benefícios que podem melhorar significativamente a qualidade de vida nas áreas urbanas. Em primeiro lugar, a segurança rodoviária pode ser substancialmente melhorada. Estes veículos são projetados para reduzir o erro humano, que é a principal causa de acidentes. Com sistemas de deteção e resposta em tempo real podem evitar colisões e garantir uma condução mais segura.

A comunicação entre veículos e infraestruturas permite uma gestão mais eficiente das vias, reduzindo congestionamentos e melhorando a fluidez do trânsito, garantindo mais tempo para os utilizadores e contribuindo para a redução das emissões de gases poluentes. Outro aspeto importante é a inclusão social. Os veículos autónomos podem ser uma solução de mobilidade para grupos vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiência. A acessibilidade aumentada proporcionada por estes veículos pode melhorar a independência e a qualidade de vida destes grupos, tornando as cidades mais inclusivas.

No entanto, nem tudo são vantagens. A introdução de veículos autónomos nas estradas pode levar a um agravamento do recurso ao automóvel, em detrimento de outros modos de transporte mais sustentáveis, como o transporte público ou a mobilidade ativa e incentivar viagens mais longas e mais frequentes, resultando em maior congestão urbana e pressão adicional sobre as infraestruturas rodoviárias. Sem uma integração adequada com sistemas de transporte coletivo, os veículos autónomos podem reforçar o modelo de mobilidade centrado no automóvel, perpetuando os desafios associados ao espaço urbano limitado e ao consumo energético.

Nos veículos autónomos a cibersegurança é uma preocupação central. A conectividade que permite a operação dos veículos autónomos também os torna vulneráveis a ataques cibernéticos. É crucial que sejam implementadas medidas robustas de segurança para proteger os dados dos utilizadores e garantir a integridade dos sistemas. A aceitação pública dos veículos autónomos ainda enfrenta barreiras. Muitos cidadãos têm receio quanto à segurança e fiabilidade desta tecnologia características são essenciais para a sua adoção em larga escala. Campanhas de sensibilização e demonstrações práticas podem ajudar a reduzir estas preocupações e a aumentar a aceitação pública.

A regulamentação também desempenha um papel fundamental. É necessário um quadro regulatório claro e abrangente que assegure a operação segura deste tipo de veículos. A colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil é essencial para superar as barreiras e garantir que estas tecnologias sejam implementadas de forma responsável e ética.

O mercado global de veículos autónomos que foi avaliado, em 2023, em cerca de 46,3 mil milhões de dólares – prevendo-se que atinja os 302,1 mil milhões de dólares até 2033 – é liderado pelos Estados Unidos da América, devido a investimentos robustos em investigação e desenvolvimento e a quadros regulamentares favoráveis. A Europa é, também, um interveniente relevante, impulsionada por normas ambientais rigorosas e avanços na tecnologia de condução autónoma. A Ásia-Pacífico emerge como um centro de crescimento chave, devido à proliferação destes veículos em países como a China, o Japão e a Coreia do Sul.

Os automóveis totalmente autónomos (ainda) não estão disponíveis para compra ou utilização. À medida que os governos e os fabricantes investem em tecnologia elétrica e autónoma, espera-se que a procura de veículos autónomos aumente e são vários os fatores que podem impulsionar o seu crescimento: medidas de segurança reforçadas, maior eficiência do tráfego e custos de transporte mais baixos. Até 2032, prevê-se que o mercado de veículos autónomos atinja uma dimensão e um valor sem precedentes, remodelando o panorama automóvel.

Os veículos autónomos representam uma oportunidade única para transformar a mobilidade urbana. Com benefícios que vão desde a segurança rodoviária até à inclusão social, passando pela sustentabilidade ambiental, têm o potencial de melhorar significativamente a qualidade de vida nas cidades. No entanto, é crucial abordar os desafios de cibersegurança, aceitação pública, regulamentação e as potenciais consequências negativas no uso excessivo do automóvel para garantir uma transição bem-sucedida para esta nova era da mobilidade. A colaboração entre todos os stakeholders será essencial para que estes veículos possam servir o bem-estar social e transformar as nossas cidades em espaços mais seguros, inclusivos e sustentáveis.