A dificuldade de poupar e a importância da Literacia Financeira em Portugal
Por Rui Lopes, CEO da Simplefy
Em Portugal, a poupança tem-se revelado um desafio: 2 em cada 3 portugueses poupam menos de 10% do salário, e as famílias portuguesas estão entre as que menos poupam na Europa, refletindo os baixos rendimentos e a falta de literacia financeira.
O Relatório PISA 2022 revela que Portugal está abaixo da média da OCDE em literacia financeira, enquanto países como Estónia e Finlândia, com abordagens educativas mais práticas têm resultados superiores. O nosso país ocupa uma posição mediana entre os 20 países avaliados, o que sublinha a necessidade de fortalecer o ensino de finanças pessoais.
A exposição limitada dos jovens portugueses a produtos financeiros agrava o problema. De acordo com dados da OCDE e do Banco de Portugal, apenas 38% têm conta bancária, contrastando com a média europeia que se encontra nos 63%. Já no que respeita ao uso de cartões de credito ou débito, são utilizados apenas por 27% dos jovens portugueses, um valor bastante inferior à média, que se situa nos 62%. Estes dados apontam para a importância de uma educação que prepare os jovens para tomar decisões financeiras informadas.
O estudo OECD/INFE de 2022, indica que a literacia financeira no ensino básico tem o potencial de diminuir a incidência de dívidas de cartão de crédito até 15% na população jovem que recebe essa formação. Adicionalmente, jovens financeiramente instruídos têm 14% mais probabilidade de adotar práticas conscientes de consumo e poupança. Uma população financeiramente informada beneficia a economia nacional, ao elevar a poupança e reduzir o endividamento. O Banco de Portugal estima que a educação financeira pode reduzir o endividamento jovem até 20%.
Porém, a implementação da educação financeira enfrenta constrangimentos. Segundos da OCDE, apenas 15% dos professores em Portugal têm formação nesta área, e a carga curricular sobrecarregada limita a introdução de novos conteúdos. O setor financeiro poderia contribuir oferecendo recursos educativos e formação para professores.
O Eurobarómetro de 2020 revela que a cultura em Portugal ainda enfrenta desafios, com 45% dos portugueses a expressarem desconforto ao abordar temas relacionados com finanças.
A inclusão da literacia financeira no ensino pode transformar o comportamento económico dos portugueses, gerando uma geração mais preparada e capaz de poupar e investir de forma consciente. A colaboração entre escolas, governo e setor privado é essencial para concretizar esta visão, promovendo uma economia nacional mais saudável e cidadãos financeiramente independentes.