Literacia Financeira em tempos adversos

Opinião de Leonor Santos, Legal and Institutional Relations Director do Cetelem – BNP Paribas Personal Finance Portugal

Executive Digest
Outubro 31, 2023
10:45

Por Leonor Santos, Legal and Institutional Relations Director do Cetelem – BNP Paribas Personal Finance Portugal

A literacia financeira é fundamental para a gestão do dia-a-dia de todos os indivíduos e agregados familiares, pois ajuda a estabelecer métodos para uma melhor gestão do orçamento e adoção de meios de poupança organizados. Apesar de, desde 2013, existir um Referencial de Educação Financeira destinado ao pré-escolar e aos ensinos básico e secundário (e também a adultos), a verdade é que continua muito caminho por trilhar nesta matéria. No atual contexto de inflação e de instabilidade internacional – e não esquecendo o crescimento da variedade da oferta de produtos financeiros, por vezes, complexos – este tema assume ainda mais importância e urgência.

O conhecimento financeiro é fundamental para a tomada de decisões conscientes, sejam estas relacionadas com o dia-a-dia, quer sejam mais complexas, como, por exemplo, o recurso ao crédito ou a realização de investimentos com instrumentos financeiros e de poupança. Estes podem, por um lado, se decididos com informação suficiente e em consciência, ser ferramentas que permitem às famílias salvaguardar um imprevisto com as poupanças já realizadas, preparar a reforma ou concretizar projetos que de outra forma não conseguiriam, além de permitir fazer uma gestão otimizada do orçamento. Por outro lado, as decisões financeiras que não acautelem um nível controlado de endividamento ou a correta compreensão dos vários produtos de poupança, podem revelar-se investimentos menos benéficos na economia das famílias não só a curto, mas a médio e longo prazo, sobretudo se não tiverem conhecimento sobre os riscos.

Importa, por isso, fazer um ponto de situação, observando alguns dados. O recente Barómetro da Comissão Europeia sobre Literacia Financeira revela que apenas 55% dos inquiridos em Portugal souberam responder corretamente a uma pergunta básica sobre inflação, a segunda percentagem mais baixa dos 27 países da União Europeia. Este dado é motivo de preocupação, uma vez que as questões relacionadas com inflação estão na ordem do dia e afetam, diariamente, a gestão financeira das famílias. Não ter uma compreensão exata do que esta implica, significa que muitos podem não estar a analisar corretamente o impacto da inflação nas suas vidas.

Já outro dado reforça a importância da formação e foi revelado no último Observador Cetelem Regresso às Aulas: 83% dos encarregados de educação consideram essencial a inclusão da literacia financeira no currículo escolar e 19% assumem sentir dificuldade em transmitir aos educandos conhecimentos sobre o assunto.

Claro que há quem já efetue muito trabalho na sensibilização para a importância da literacia financeira, como é exemplo a Junior Achievement Portugal (JAP) – a maior e mais antiga

organização mundial de educação dos jovens nestas e noutras matérias como o empreendedorismo. Uma entidade com quem o Cetelem, a par de muitas outras entidades e pessoas, colabora desde 2021, através da participação em cariz voluntário dos seus colaboradores. Esta é apenas uma das ações que temos vindo a desenvolver – a par do site notasemdia.pt, uma ferramenta com dicas úteis para apoiar a gestão financeira e da poupança – com o objetivo de dar o nosso contributo neste domínio, mas para a qual todos somos chamados a contribuir.

Até porque, os resultados destes e de outros estudos espelham que temos de fazer mais, continuando a trabalhar para uma sociedade economicamente mais informada.

O Plano Nacional de Formação Financeira, na versão de trabalho 2021-2025, estabelece como metas: melhorar conhecimentos e atitudes financeiras, apoiar a inclusão financeira, desenvolver hábitos de poupança, promover o recurso responsável ao crédito e criar hábitos de precaução, sensibilizando para situações de risco que podem afetar o rendimento.

Não há qualquer dúvida de que este é o caminho que se deve percorrer: aprender e passar a dominar este tema. Entender as oscilações do mercado, como nos protegermos delas, aprender a planear e organizarmo-nos a médio e longo prazo. Porque numa sociedade com cidadãos informados, a qualidade e nível de vida melhoram.

Não é por acaso que costumamos dizer “Conhecimento é Poder”, nas palavras do filósofo Francis Bacon, “pai” do empirismo filosófico. É pondo em prática as nossas aprendizagens que conseguimos dominar as adversidades. Cabe a todos assumirmos parte desta responsabilidade, para construirmos uma sociedade mais informada e capacitada para tomar boas decisões financeiras.

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