As crescentes dificuldades na Europa no setor da habitação colocam uma questão: há alojamento acessível na Europa? Se olharmos para a cidade alemã de Augsburg, na Baviera, existe um complexo residencial de renda fixa desde a sua fundação em 1516. É provavelmente o primeiro projeto de habitação social da história e os moradores pagam a mesma renda: 0,88 cêntimos de dólar por ano.
Trata-se do complexo residencial Fuggerei, uma vila medieval no coração da cidade alemã, cujo nome deriva de Jakob Fugger, talvez o homem mais rico da Europa no século XVI: de acordo com o jornal espanhol ‘El Economista’, era um comerciante e banqueiro mais proeminente das finanças do Velho Continente – subsidiou guerras e reis, incluindo a eleição do imperador Carlos I de Espanha e V da Alemanha.
De forte fé católica, ordenou e financiou a construção deste complexo habitacional social na sua cidade natal, que ficou concluído em 1523 e era composto por 52 habitações. Por decreto, Fugger decidiu que o rendimento anual seria de um florim renano (0,88 cêntimos de dólar), embora com condições que ainda hoje se aplicam: ser católico, rezar três vezes ao dia (um Pai Nosso, uma Avé Maria e um Credo) para a família Fugger, ter mais de 60 anos, residir em Augsburg há pelo menos 2 anos e estar numa situação de indigência sem dívidas.
Atualmente, o Fuggerei é composto por 70 casas e cerca de 150 apartamentos, cada um com entre 45 e 65 metros quadrados, com cozinha, receção e dois quartos, e ainda um pequeno jardim.
O complexo foi ampliado em diversas ocasiões e agora inclui uma igreja, uma fonte, uma escola e até um pequeno museu. Apesar de ter sido bombardeado durante a II Guerra Mundial, a reconstrução foi feita respeitando o espírito original.
A título de curiosidade, o complexo está vedado e, como na época medieval, fecha as suas portas à noite. Os residentes revezam-se na vigilância das entradas e multam quem se apresenta depois das 22 horas, com multas entre 50 cêntimos e um euro consoante a hora de chegada.
Apesar das condições (que também incluem a realização de tarefas para a comunidade, como cuidar do jardim ou da igreja), há uma grande procura por Fuggerei e a lista de espera atualmente é de cerca de quatro anos. Muitos dos residentes são viúvos sem poupanças que, com as suas pensões baixas, não conseguem pagar uma renda de várias centenas de euros.
A peculiaridade da vila fez dela uma atração turística e estima-se que todos os anos receba cerca de 200 mil visitantes que pagam 4 euros para passear pelas poucas ruas que compõem o complexo.














