
XXIV Barómetro Executive Digest: Alberto Ramos, Bankinter Portugal
A análise de Alberto Ramos, Country Manager da Bankinter Portugal
A incerteza continua a fazer parte das preocupações dos empresários e gestores que, ao longo dos últimos dois anos, têm sabido enfrentar com resiliência e criatividade as adversidades de uma pandemia ainda por debelar e que agora são confrontados com os múltiplos impactos de uma guerra na Europa, que se julgava improvável, mas que é hoje uma realidade sem fim à vista. A nuvem de dúvidas que pensávamos estar a dissipar-se, à medida que as sociedades e economias reabriam por força dos avanços da vacinação, volta assim a pairar na ordem do dia, fruto do agravamento das tensões geopolíticas e consequentes implicações que se repercutem pelos quatro cantos do mundo. É o que podemos verificar neste barómetro, com quase metade dos inquiridos a apontar as previsões económicas e a incerteza da procura de produtos e serviços como o maior desafio e com 38% a planear “navegar à vista” em função da evolução da conjuntura, o que poderá ter impacto nas decisões das famílias e empresas, com implicações ao nível do consumo e investimento. Neste contexto, será natural que parte dos recursos e da atenção dos empresários e decisores seja concentrada na gestão das questões conjunturais que irão surgindo. Ainda assim, é fundamental que não se percam de vista as prioridades de médio e longo prazo, pois só assim poderemos, quando este momento for ultrapassado, garantir uma trajectória de sucesso para as empresas e para o país. Num tom mais positivo é de destacar, ainda assim, que mais de metade dos participantes prevê um aumento de vendas no segundo semestre, com crescimento superior a 10%, e apenas 6% espera um decréscimo. Estes sinais de optimismo são, no entanto, temperados com três notas de preocupação:
- Em primeiro lugar, a expectativa de uma subida dos custos de produção acima dos 10%, que poderá influenciar o volume de vendas e, eventualmente, margens, se esse acréscimo de custos não puder ser repercutido no preço final dos bens e serviços;
- Em segundo lugar, a indicação por parte de 57% dos participantes de que o apoio à recuperação das empresas deveria ser uma das principais prioridades do Orçamento do Estado para este ano. Algo que parece não acontecer na exacta medida das necessidades sentidas;
- Por último, uma crescente preocupação com o emergente cenário de subida das taxas de juro, que certamente terá repercussões nos orçamentos das famílias e empresas, assim como nos custos a suportar pelo próprio Estado.
Em jeito de resumo diria que os dados deste barómetro permitem-nos concluir que aos sinais de optimismo transmitidos se deve juntar uma boa dose de prudência pelos tempos incertos que estamos a viver, mantendo a esperança de que não se verifiquem cenários mais difíceis e exigentes do que aqueles que as actuais previsões indicam.
Testemunho publicado na edição de Junho (nº. 195) da Executive Digest, no âmbito da XXIV edição do seu Barómetro.