Venezuela: Maduro acusa Musk e adversários “fascistas” de “fazerem pactos satânicos como Hitler” e prepararem golpes de Estado na Internet

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, participou numa tertúlia em Caracas com Juan Carlos Monedero, fundador do partido espanhol Podemos, onde teceu duras críticas ao magnata sul-africano Elon Musk, acusando-o de estar por trás de um suposto “golpe de Estado cibernético, fascista e criminoso” contra a Venezuela.

Pedro Gonçalves
Agosto 27, 2024
11:45

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, participou numa tertúlia em Caracas com Juan Carlos Monedero, fundador do partido espanhol Podemos, onde teceu duras críticas ao magnata sul-africano Elon Musk, acusando-o de estar por trás de um suposto “golpe de Estado cibernético, fascista e criminoso” contra a Venezuela. A conversa, que durou cerca de uma hora e meia, foi publicada no canal de YouTube de Maduro.

Durante o debate, Maduro acusou Musk de financiar e dirigir, a partir dos Estados Unidos, tentativas de desestabilizar o governo venezuelano. “Derrotámos o fascismo”, afirmou Maduro, sublinhando que essa vitória é clara: “Derrotámo-lo completamente”, disse, dirigindo-se a Monedero.

A conversa enveredou por comparações históricas, onde Maduro traçou paralelismos entre a situação atual da Venezuela e a queda da Segunda República Espanhola, resultado do golpe de Estado liderado por Franco. “Ainda sentimos a dor pela Segunda República”, lamentou-se, enquanto Monedero acenava em concordância.

Maduro também mencionou supostos “pactos satânicos, ocultistas e esotéricos de Mussolini e Hitler”, ligando esses pactos à situação atual na Venezuela e sugerindo que Elon Musk e o “fascismo venezuelano” estariam envolvidos em ações semelhantes.

Juan Carlos Monedero tentou interromper Maduro, mas o presidente venezuelano continuou, afirmando que a questão era “interessante”, especialmente para o povo venezuelano, que descreveu como “muito cristão e muito nobre”.

Durante a conversa, Maduro comentou ainda que acompanha as notícias de Espanha através de jornais como El Mundo e EL ESPAÑOL. Monedero, por sua vez, apressou-se a esclarecer que esses são “dois jornais de extrema-direita”, e mencionou a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, afirmando que, em sua juventude, foi falangista, referindo-se ao partido que “fuzilava os republicanos ao amanhecer”. Maduro, surpreendido, respondeu: “Não sabia dessa informação.”

No entanto, Maduro voltou a centrar-se em Elon Musk, questionando como um “vendedor de cachorros-quentes em Pretória” se tornou no “grande magnata do mundo”. Insinuou que Musk, vindo de um país moldado pela ideologia nazi do apartheid, agora controla vastos recursos tecnológicos, incluindo 6.000 satélites. Maduro ainda contou uma história sem confirmação sobre Musk, afirmando que este teria dito: “O golpe de Estado na Bolívia foi dado por mim, pelo lítio, e posso derrubar qualquer governo que queira.”

Maduro insistiu que a situação na Venezuela é resultado da interferência dos Estados Unidos, país que, segundo ele, tem o “monopólio das máquinas de produzir Internet”. Explicou que, não importa onde se esteja, “essa Internet vem das máquinas dos EUA”. Propôs um cenário hipotético onde a Venezuela controlasse essas “máquinas”, sugerindo que, nesse caso, o país “democratizaria a comunicação”.

Maduro também alegou que os EUA operam “fábricas de influenciadores e quintas de bots” que atacam figuras chavistas nas redes sociais. Reclamou que, sempre que publica algo no TikTok, “mandam 100.000 bots para aniquilar o vídeo”.

Na tertúlia, Maduro mencionou ainda o novo presidente da Argentina, Javier Milei, chamando-o de “um sociopata sádico” cujo objetivo seria instaurar um sistema autoritário com características fascistas.

Monedero, ao início da conversa, felicitou efusivamente Maduro pela sua reeleição, referindo-se à recente decisão do Tribunal Superior de Justiça (TSJ) da Venezuela, que confirmou a vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 28 de junho. No entanto, a comunidade internacional não reconheceu os resultados dessas eleições.

Desde então, o governo de Maduro tem intensificado a repressão, com detenções de líderes da oposição e manifestantes que protestaram contra o alegado fraude eleitoral. Antes de encerrar a tertúlia, Maduro citou a filósofa judia Hannah Arendt: “Mentir constantemente não tem como objetivo fazer com que as pessoas acreditem numa mentira, mas garantir que já ninguém acredita em nada.”

O Conselho de Direitos Humanos da ONU alertou recentemente para a falta de imparcialidade e independência do TSJ e do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, ambos controlados pelo regime chavista. A ONU também destacou o envolvimento dessas instituições na repressão dos opositores.

O Centro Carter, que atuou como observador das eleições a convite do regime de Maduro, concluiu que o processo eleitoral careceu de transparência e, portanto, não pode validar os seus resultados.

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