Urgências estiveram fechadas 15 mil horas no 1.º semestre, mas médicos falam em ilusão estatística

Segundo dados da Direcção Executiva do SNS (DE-SNS) divulgados pelo Público, entre janeiro e junho foram contabilizados 636 dias de encerramento completo das urgências hospitalares, o equivalente a cerca de 15 mil horas, contra 892 dias em 2024.

Revista de Imprensa
Julho 25, 2025
9:29

Os serviços de urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) registaram, no primeiro semestre de 2025, uma redução de 29% nos dias de encerramento em comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo dados da Direcção Executiva do SNS (DE-SNS) divulgados pelo Público, entre janeiro e junho foram contabilizados 636 dias de encerramento completo das urgências hospitalares, o equivalente a cerca de 15 mil horas, contra 892 dias em 2024. No entanto, várias estruturas sindicais e especialistas ouvidas pelo Público colocam em causa a utilidade e clareza desta comparação.

Para a presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), Joana Bordalo e Sá, “este tipo de dado vale de muito pouco para quem está no terreno e para as populações que encontram estes serviços fechados”. Já Nuno Rodrigues, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), considera que “a comparação não é esclarecedora”, sublinhando que muitas urgências permanecem tecnicamente abertas, mas com “capacidade de resposta muito diminuída”. A valência mais afetada continua a ser a de obstetrícia: no primeiro semestre deste ano, foram registados 504 dias de encerramento neste sector, menos 150 do que em 2024, entre as 44 urgências obstétricas do país.

As urgências pediátricas registaram a maior redução percentual, com menos 98 dias encerradas — uma descida de 45%, de 220 dias em 2024 para 122 em 2025. Já nas urgências gerais e básicas de adultos (83 no total), o número de dias de encerramento caiu de 18 para 10. No entanto, estas estatísticas são alvo de ceticismo: “Os dados comparativos com anos anteriores deixaram de ser públicos e a informação oficial tornou-se cada vez menos transparente”, critica Bordalo e Sá. “Há sempre muita engenharia à volta dos dados, o que gera opacidade”, acrescenta. Também Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, questiona o critério de contagem: “Encerrar uma noite não conta? E se for numa zona sem alternativa?”

A situação mantém-se crítica no terreno. A escassez de profissionais obriga à dependência de tarefeiros e internos sem supervisão, com consequências graves. “Este ano já nasceram 40 bebés fora de maternidades, 38 em ambulâncias. Estes números valem pouco para quem tem de percorrer quilómetros para receber cuidados”, alerta Bordalo e Sá. A crise, insiste, “não se limita à obstetrícia nem à Margem Sul — é nacional, e afeta todas as urgências, de norte a sul”. Para mitigar a carência de médicos, o Governo autorizou este ano as Unidades Locais de Saúde (ULS) a pagar até mais 50% aos médicos prestadores de serviços face ao valor base dos médicos do quadro.

Este fim-de-semana, continuam os constrangimentos: no sábado, estarão encerradas as urgências de obstetrícia e ginecologia dos hospitais de São Bernardo (Setúbal), Vila Franca de Xira, Caldas da Rainha e Santo André (Leiria), bem como a urgência pediátrica de Vila Franca de Xira. No domingo, além destas — com exceção de Caldas da Rainha, que reabre — encerram também as urgências do Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) e do hospital de Santarém. O encerramento reiterado levou os presidentes das câmaras de Setúbal, Palmela e Sesimbra a reunirem-se para exigir soluções para o Hospital de São Bernardo, integrado na nova ULS da Arrábida, que funciona agora em regime rotativo com as unidades do Barreiro e de Almada.

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