William Burns, ex-diretor da CIA, abordou esta terça-feira o papel fundamental da Inteligência na preparação da invasão russa da Ucrânia em fevereiro de 2022, enfatizando a importância do alerta precoce e do uso estratégico para combater desinformação.
Num evento no Carnegie Endowment for International Peace, Burns, que também serviu como embaixador dos EUA na Rússia, afirmou que a sua longa interação com Vladimir Putin lhe deu uma perspetiva única: o responsável americano descreveuo ditador russo como uma “combinação explosiva de ressentimento, ambição e insegurança, tudo junto”. Burns observou que, desde a Revolução Laranja na Ucrânia, em 2004, Putin via o que considerava uma “mudança de regime” na esfera de influência da Rússia como uma ameaça direta ao seu próprio poder.
Segundo o ex-diretor da CIA, no final de 2021, a agência americana tinha “informações requintadas” sobre os planos de invasão de Putin. Essa inteligência, combinada com seu extenso histórico com Putin, convenceu-o da seriedade do líder russo. Em novembro de 2021, o presidente Joe Biden enviou Burns a Moscovo para alertar Putin diretamente, expondo os detalhes precisos do que os EUA sabiam. Putin, no entanto, foi “totalmente implacável”.
William Burns acredita que a decisão de Putin de invadir foi baseada em suposições fundamentalmente falhadas. O presidente russo estava convencido de que o momento era taticamente favorável e que o exército russo estava modernizado o suficiente para derrotar a Ucrânia com facilidade – tinha também uma visão pessimista da capacidade da Europa e dos EUA de responder com eficácia.
Putin acreditava ter “protegido a economia russa contra sanções”. Essas suposições decorriam de um processo decisório fechado, em que o seu círculo íntimo era pequeno e repleto de indivíduos que partilhavam as suas opiniões linha-dura ou não estavam dispostos a questionar o seu julgamento.
Burns sustentou que a guerra de Putin já representa um “fracasso estratégico” para a Rússia, destacando que as fraquezas militares de Moscovo estão expostas, a sua economia está “gravemente prejudicada” e o seu futuro está a ser moldado como um “parceiro júnior e colónia económica da China”.
O ex-diretor observou igualmente que as “ambições revanchistas” de Putin foram “atenuadas por uma NATO que só cresceu e se fortaleceu”. Mas os líderes do Kremlin ainda tinham uma “visão sombria” da capacidade de resposta da Europa e acreditavam que os EUA provavelmente não forneceriam apoio significativo. “Essas eram suposições fundamentalmente falhadas”, disse Burns, que atribuiu esses erros ao facto de Putin confiar num círculo cada vez mais restrito de assessores, composto por aqueles que partilhavam as suas opiniões ou que haviam aprendido que não “contestariam os seus julgamentos para melhorar a sua carreira”.
Um aspeto fundamental da resposta dos EUA, explicou Burns, foi alavancar a inteligência para construir uma coligação internacional forte. “A credibilidade da nossa inteligência… ajudou o presidente a construir uma coligação forte”, salientou, acrescentando que também ajudou a apoiar os ucranianos.
Burns também destacou a decisão estratégica de desclassificar parte da inteligência para expor os planos de Putin. Isso foi feito para negar a Putin “a capacidade de criar narrativas falsas, algo que eu o observei fazer com muita frequência ao longo de muitos anos”.
Burns concluiu enfatizando o forte relacionamento construído entre a CIA e os seus parceiros ucranianos, que começou após a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia em 2014. Essa parceria de longo prazo provou ser crucial, contribuindo para a capacidade da Ucrânia de resistir à invasão. O próprio Burns viajou à Ucrânia 14 vezes como diretor, mais do que para qualquer outro lugar, para ressaltar o comprometimento dos EUA e da agência.














