Na Roménia, onde 29% do território é coberto por vegetação, está escondido um dos pulmões da Europa: dois terços das últimas florestas virgens da União Europeia, na região dos Cárpatos romenos. E está ameaçado pela desflorestação ilegal, a um valor tão rápido que já compete, na sua escala no pódio dos piores casos, com a floresta amazônica, a África central e o sudeste asiático.
Os especialistas alertam que existem 250 mil hectares de florestas muito antigas, para além dos 800 hectares atualmente contabilizados, e que deviam imediatamente ser classificados e declarados área protegida. A Conservation Carpathia aponta ao El Confidencial que o proprietários não declaram as suas florestas como ‘virgens’ por desconfiança dos sistemas do Estado romeno de compensação financeira.
“Nas Fagaras mais de 180 mil árvores centenárias foram abatidas, de forma ‘legal’, só nos últimos três anos, aponta Mihai Zotta, diretor da organização.
A par desta situação, prolifera a ‘Máfia da Madeira’, não à italiana, com uma estrutura vertical, mas uma teia de pequenas organizações e empresas independentes do setor madeireiro.
Ainda recentemente, o Parlamento Europeu enviou oito pessoas às montanhas romenas para uma ‘investigação de factos’ relacionados com crimes ambientais, e que incluiu reuniões dos eurodeputados com ativistas, políticos, guardas florestais, magistrados e especialistas. Estiveram noum local onde tinham sido abatidas faias com 300 anos, de forma clandestina.
A ‘crise florestal’ na Roménia já envolveu até ameaças de morte e ataques. Recorde-se o caso de Tiberiu Bosutar, ativista ambiental romeno que foi filmado com a cara ensanguentada após ser agredido, no porta-bagagens de um carro, há um ano. O vídeo divulgado pelo autores das agressões, mostrava-os a humilharem Bosutar e a ameaçá-lo de mais agressões, e morte.
Outra das pessoas que estava com o ativista, um jornalista, conseguiu escapar às agressões e ligar às autoridades, mas ao som das sirenes os criminosos fugiram, e até hoje não foram identificados.
Bosutar garante que os agressores eram guardas-florestais e madeireiros da região de Dealu Negru. “Muitas testemunhas foram ameaçadas, espancadas e até mortas, mas na maioria das vezes nem têm coragem para apresentar queixa às autoridades”, lamenta o ativista, que criou uma ONG dedicada a seguir denúncias anónimas relacionadas com a corrupção instalada no setor da madeira.
Os números oficiais do Estado romeno são alarmantes, mas ainda mais por terem ‘lacunas’ graves. O Estudo de Impacto Ambiente, relativo a 2008 a 2014, aponta que foram extraídos 8,8 milhões de metros cúbicos de madeira de forma clandestina, o que representa quase metade do total explorado.
Depois, nova bandeira vermelha: Em 2019, o ministro do Ambiente da Roménia reconheceu que alguns dados oficiais não estavam corretos, já que o Inventário Florestal Nacional contava que, entre 2013 e 2018, havia 20 milhões de metros cúbicos de madeira que, todos os anos, desapareciam sem explicação.
O Ministério Público romeno confirma que se verifica “uma participação crescente de grupos organizados em crimes ambientais”, e explica alguns esquemas usados: falsos certificados de exploração, falsificação de documentos para cultura fictícia perto de árvores de maior porte, ou extração de árvores nas imediações da concessão de forma ‘disfarçada’ de trabalhos de limpeza florestal.
O impacto, entre 1990 e 2011, segundo o Tribunal de Contas da Roménia, atingiu um mínimo de 5000 milhões de euros, só contando os efeitos imediatos da extração ilegal da madeira.
Nem as empresas exploradoras nem a crescente procura de madeira como forma de aquecimento, parecem ser as respostas para o ‘desaparecimento’ de hectares de floresta romena todos os anos.
Laura Bouriaud, professora da Universidade de Suceava, aponta o problema da “corrupção instalada”, que apresenta um risco maior a longo prazo, tanto por causa do tipo de madeira que eles procuram quanto por causa da sua capacidade de explorar áreas protegidas e encobrir essas situações com papelada”.
Enquanto decorrem ainda as investigações do Parlamento Europeu à suposta ‘Máfia da Madeira’ no país, permanecem por ver resultados ou medidas que surtam efeitos.














