UE planeia ‘Schengen Militar’ para agilizar movimentação de tropas e armamentos devido à ameaça russa

De acordo com a francesa ‘RMF FM’, o documento preliminar da Comissão Europeia deverá ser apresentado a 19 de novembro e centra-se no conceito de “mobilidade militar”

Francisco Laranjeira
Novembro 5, 2025
15:28

A União Europeia está a ultimar um plano para permitir a movimentação mais rápida de tropas, armas e suprimentos através do continente, numa tentativa de reforçar a prontidão militar perante uma eventual escalada com a Rússia.

De acordo com a francesa ‘RMF FM’, o documento preliminar da Comissão Europeia deverá ser apresentado a 19 de novembro e centra-se no conceito de “mobilidade militar” – a capacidade de deslocar soldados, munições e equipamentos de forma rápida e sem entraves administrativos entre Estados-Membros. A proposta inclui novas medidas legislativas e uma atualização dos projetos já em curso.

Um “Schengen militar” para o continente

Em Bruxelas, a iniciativa é descrita como uma espécie de “Schengen militar”, uma alusão ao sistema de livre circulação de pessoas dentro da UE. O objetivo é criar uma rede integrada de transporte que permita aos comboios e veículos militares cruzar fronteiras com a mesma facilidade que os civis, apoiada por infraestruturas modernizadas, regras harmonizadas e corredores logísticos adaptados ao uso militar.

Atualmente, muitas pontes e túneis europeus não suportam o peso de tanques ou viaturas blindadas, e a burocracia pode atrasar deslocações estratégicas por dias. “Transportar tanques do Ocidente para o Flanco Oriental pode resultar em que fiquem presos em túneis ou à espera de autorizações de trânsito”, afirmou Dariusz Joński, membro da Comissão de Defesa do Parlamento Europeu.

Eliminar obstáculos e reforçar infraestruturas

O plano da Comissão pretende eliminar obstáculos físicos e administrativos, reforçando pontes, expandindo a capacidade ferroviária e melhorando a coordenação entre os Estados-Membros. Está ainda previsto um sistema digital aduaneiro para agilizar o transporte transfronteiriço e a criação de um “quadro de emergência” para missões urgentes.

Entre as medidas estudadas encontra-se também a criação de uma “frota de solidariedade”, composta por vagões e locomotivas dedicados a transporte militar rápido em toda a Europa. Bruxelas quer igualmente introduzir novos protocolos de segurança para proteger rotas críticas contra sabotagem e ciberataques.

Iniciativa europeia ganha força face à incerteza americana

O esforço europeu para reforçar a prontidão militar decorre num momento de incerteza sobre o envolvimento dos Estados Unidos no flanco leste da NATO.

Nos EUA, Austin Dahmer, nomeado pela administração Trump para chefiar o gabinete de estratégia do Pentágono, admitiu recentemente que “a Rússia continua a ser uma ameaça à segurança dos Estados Unidos”. As declarações surgem após decisões controversas, como a suspensão de parte da ajuda militar à Ucrânia e a retirada de uma brigada americana da Roménia, medida que surpreendeu aliados da NATO no leste europeu.

“Sempre que Washington hesita, Moscovo testa os limites”, afirmou um diplomata europeu citado pelo Kyiv Post, sob anonimato. A Roménia, a Polónia e os países bálticos interpretam esses sinais contraditórios como possíveis indícios de retração militar americana.

“Os EUA ainda consideram a Rússia uma ameaça”, declarou outro funcionário europeu em Bruxelas, “mas uma ameaça pouco significa se Washington não conseguir alinhar a sua própria estratégia”.

Coordenação com a NATO

Segundo fontes europeias citadas pela ‘RMF FM’, o plano será desenvolvido em estreita cooperação com a NATO, evitando sobreposição de esforços e assegurando coerência logística e operacional. A Polónia tem sido um dos países mais ativos na defesa dessa coordenação, defendendo que a iniciativa europeia complemente – e não duplique – o planeamento militar da Aliança Atlântica.

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