UE está em alerta pela expansão de vírus transmitidos por mosquitos: Portugal não regista qualquer caso positivo de febre do vírus do Nilo

ECDC assegurou que, ao longo dos anos, a zona do Mediterrâneo vai liderar o número de infeções, com um número “preocupante” de surtos

Francisco Laranjeira
Agosto 1, 2023
11:11

A União Europeia está em alerta pela expansão de casos de doenças transmitidas por mosquitos: segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDE), em 2022 foi ultrapassada uma linha vermelha em termos de casos de doenças tropicais adquiridas localmente. Houve 1.113 episódios humanos relatados e 92 mortes por infeção pelo vírus do Nilo Ocidental, com origem em 11 países, o maior número de casos desde o ano de pico da epidemia em 2018, indicou esta terça-feira o jornal espanhol ‘ABC’. Itália foi a mais afetada, com um recorde de 723 casos no ano passado.

Em relação à dengue, a União Europeia registou 71 infeções em 2022, o que equivale ao número total de infetados entre 2010 e 2021. A França teve 65 infetados em seis surtos diferentes e Espanha registou seis casos de dengue adquirida localmente.

As autoridades portuguesas não identificaram este ano qualquer mosquito com o vírus do Nilo, detetado em três municípios de Sevilha, mantendo ativas as armadilhas de mosquitos e ovos em todas as regiões do Continente e na Madeira. A Direção Geral da Saúde explicou, em declarações à agência Lusa, que a febre do Nilo Ocidental em humanos “é uma doença de notificação obrigatória” no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE) e que não foram registados este ano quaisquer casos autóctones ou importados em Portugal.

No fim de semana, a Direção-Geral da Saúde Pública espanhola e a Organização Farmacêutica da Andaluzia revelaram ter detetado a circulação do vírus da febre do Nilo Ocidental (FNO) em três municípios de Sevilha, pedindo a adoção de medidas de saúde pública.

A DGS garantiu que não foram identificados em Portugal mosquitos infetados com o vírus do Nilo Ocidental e que se mantêm as armadilhas (de mosquitos e de ovos de mosquitos) ativas pela Rede Nacional de Vigilância de Vetores (REVIVE) em todas as regiões continentais e ainda da Região Autónoma da Madeira, onde o mosquito (Culex pipens) mais competente na transmissão, entre outros, do vírus da febre do Nilo, está presente.

“Em Portugal, a vigilância entomológica garantida pela rede REVIVE a nível local, regional e nacional é intensificada nas épocas já definidas como as de maior intensidade vetorial, em especial para as diferentes espécies Culex, nativas na Europa, entre julho e setembro”, acrescenta.

De acordo com a Direção Geral de Alimentação e Veterinária, desde 2015 que têm ocorrido focos da doença em Portugal. Nesse ano foram detetados oito focos, em 2016 seis e em 2017 três, nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, do Alentejo e do Algarve.

Em 2022, foram três os focos de febre do Nilo Ocidental confirmados em Portugal: Alcácer do Sal, Portalegre e Castro Verde.

Do ECDC asseguraram que, ao longo dos anos, a zona do Mediterrâneo vai liderar o número de infeções, com um número “preocupante” de surtos. “O clima mediterrâneo tornou-se o habitat perfeito para o mosquito-tigre, e não é de surpreender que os casos de dengue estejam a aumentar”, sustentou Celine Gossner, especialista em doenças emergentes e transmitidas por vetores, como mosquitos. “Nos últimos anos, temos experimentado uma expansão geográfica de espécies de mosquitos invasores em áreas da UE que não eram afetadas anteriormente”, referiu a diretora do ECDC, Andrea Ammon, acrescentando que “se isso continuar, haverá mais casos e possivelmente mortes por doenças como dengue ou febre do Nilo Ocidental”.

Dengue, chikungunya ou Zika são doenças transmitidas especificamente pelo mosquito-tigre (‘Aedes albopictus’), uma espécie invasora do Sudeste Asiático que se instalou na costa do Mediterrâneo. O ‘Aedes aegypti’, conhecido como mosquito da febre amarela, foi introduzido nas Ilhas Canárias e o mosquito japonês (‘Aedes japonicus’), da mesma família do tigre, também pode gerar surtos – por exemplo, da febre do Nilo Ocidental.

No Velho Continente, a ONU salientou a sua preocupação: há dez anos, o mosquito-tigre estava estabelecido em apenas oito países da União Europeia, com 114 regiões afetadas. Em 2023, está em 13 países e 337 regiões.

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