Ucrânia: depois de dois meses de progresso lento, a tão esperada contraofensiva está a ganhar velocidade. Por que demorou tanto?

Após uma série de ataques com mísseis destinados a degradar a logística russa, Kiev espera poder recapturar áreas significativas de território nas próximas semanas. Os decisores militares da Ucrânia estarão muito cientes de que o tempo é limitado

Francisco Laranjeira
Agosto 3, 2023
7:30

A contraofensiva da Ucrânia tem sido objeto de muita especulação nos últimos meses, até mesmo antes de oficialmente começar. Até ao momento, o progresso foi modesto e levantou receios no Ocidente de que Kiev estivesse a fazer poucos avanços contra as defesas russas entrincheiradas.

No entanto, nos últimos dias, os relatos, apoiados por evidências geolocalizadas, sustentam que a operação está a ganhar força e há avanços em vários pontos das linhas defensivas russas. De acordo com relatórios, a Ucrânia está a comprometer uma parte significativa das suas forças para alcançar progressos, incluindo diversas brigadas treinadas e equipadas pela NATO.

De acordo com Christopher Morris, da Universidade de Portsmouth, do Reino Unido, em artigo de opinião no site ‘The Conversation’, o progresso está a ser feito em várias frentes, sendo que vários assentamentos foram libertados na região de Donetsk, enquanto novas forças adicionais foram empenhadas no avanço no sudeste. As forças ucranianas estarão a afastar-se de ações de menor escala destinadas a moldar o campo de batalha e a começar a atacar em força.

Após uma série de ataques com mísseis destinados a degradar a logística russa, Kiev espera poder recapturar áreas significativas de território nas próximas semanas. Os decisores militares da Ucrânia estarão muito cientes de que o tempo é limitado, pois resta apenas um tempo relativamente curto antes que o tempo piore, tornando o movimento rápido mais difícil.

Há uma série de razões pelas quais é difícil avançar. Enquanto as forças russas são relatadas como desorganizadas e com baixo moral, têm a vantagem de ocupar posições defensivas bem preparadas, o que as tornará difíceis de desalojar. Moscovo também aprendeu com o sucesso da contraofensiva do outono da Ucrânia e foram capazes de preparar muitos desafios, como campos minados que se estendem por centenas de quilómetros.

Embora a Ucrânia possua uma força altamente móvel, bem treinada e capaz, barreiras físicas dessa natureza estão a mostrar-se difíceis de superar: é importante notar que nenhum dos lados controla os céus, o que significa que a Ucrânia precisa de ser cautelosa com as suas operações terrestres.

Outro fator a levar em consideração é o valor das forças da Ucrânia: a contraofensiva começou com cerca de 40 mil soldados especialmente treinados e equipados. Apoiadas por oficiais experientes e equipamento ocidental, estas brigadas recém-formadas representam um enorme investimento em pessoal e equipamento e Kiev não se pode dar ao luxo de trocar estas forças por ganhos modestos na linha da frente, visto que seriam muito difíceis de substituir.

“Gostaríamos de obter resultados muito rápidos mas, na realidade, é praticamente impossível”, referiu o gereral Syrskyi, arquiteto de algumas das maiores vitórias da Ucrânia, que enfatizou a importância de uma abordagem cautelosa. Também Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, garantiu que não se podem esperar resultados ao estilo ‘Hollywood’, o que sugere que os avanços continuarão, ainda que de forma deliberadamente cautelosa.

No entanto, a Ucrânia pode estar a romper as defesas russas em vários pontos: se for alcançada uma brecha significativa, a Ucrânia terá como objetivo ganhar impulso rapidamente, através dos seus blindados e unidades mecanizadas para avançar para o interior das regiões ocupadas pela Rússia: com as redes de logística destruídas e poucos efetivos, as forças russas podem ter dificuldades para reagir.

Mesmo um progresso modesto na linha da frente coloca pressão significativa sobre o Kremlin: depois da humilhação da insurreição do grupo Wagner, e parecendo incapaz de defender o espaço aéreo sobre Moscovo de ataques de drones ucranianos, o regime de Putin está numa posição instável.

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