Trump pode reconhecer Crimeia como parte da Rússia no acordo de paz com a Ucrânia

A Casa Branca poderá não só reconhecer oficialmente a Crimeia como parte da Rússia, mas também incentivar as Nações Unidas a fazerem o mesmo.

Pedro Gonçalves
Março 18, 2025
11:39

O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está a considerar formalmente reconhecer a Crimeia como território russo no contexto de um possível acordo de paz para pôr fim à guerra na Ucrânia, segundo avançam fontes próximas do processo ao meio de comunicação norte-americano Semafor. A Casa Branca e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia ainda não comentaram oficialmente esta possibilidade.

A Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, tem sido um dos pontos mais críticos da guerra entre Moscovo e Kiev. A comunidade internacional condenou amplamente a anexação, considerando-a ilegal. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem repetidamente sublinhado que a reversão desta anexação é uma condição essencial para qualquer solução de paz duradoura. “A Crimeia pertence à Ucrânia e será reconquistada”, tem afirmado Zelensky em várias ocasiões.

De acordo com o Semafor, a Casa Branca poderá não só reconhecer oficialmente a Crimeia como parte da Rússia, mas também incentivar as Nações Unidas a fazerem o mesmo. Esta possibilidade surge num momento em que Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, se preparam para uma conversa telefónica na terça-feira, enquanto os EUA pressionam por um cessar-fogo de 30 dias no conflito.

Trump, que tem procurado posicionar-se como um mediador da guerra, afirmou no domingo que o objetivo da conversa com Putin será “ver se conseguimos pôr fim a esta guerra”. Em declarações a bordo do Air Force One, o ex-presidente revelou ainda que os negociadores já discutiram a possibilidade de “dividir certos ativos”, embora sem dar mais detalhes sobre o significado dessa expressão.

A posição da Ucrânia, no entanto, continua a ser firme: Kiev recusa qualquer cessão territorial à Rússia, enquanto Moscovo insiste que a Ucrânia deve abandonar as suas aspirações de adesão à NATO e reconhecer não só a Crimeia, mas também as regiões de Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson como território russo.

O cientista político John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago e conhecido por sua análise sobre a geopolítica da Ucrânia, expressou ceticismo quanto à possibilidade de Kiev recuperar as áreas ocupadas. “A única questão interessante neste momento é quanto território a Ucrânia ainda pode perder, porque não há qualquer possibilidade de recuperar o que já perdeu”, afirmou Mearsheimer à Newsweek. “Mesmo com total apoio dos EUA e dos aliados europeus, a Ucrânia não conseguirá retomar esses territórios. Esta é uma situação desastrosa para o país”.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Brian Hughes, negou que a Casa Branca tenha feito qualquer compromisso relacionado com a Crimeia. “Não fizemos qualquer compromisso e não vamos negociar este acordo através da comunicação social”, disse Hughes ao Semafor. No entanto, destacou os esforços de Trump para alcançar um acordo de cessar-fogo. “Há apenas duas semanas, Ucrânia e Rússia estavam muito distantes de um acordo, e agora estamos mais perto de um entendimento graças à liderança do presidente Trump”.

Já a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, reforçou esta ideia ao afirmar que os EUA estão “mais próximos do que nunca de um acordo de paz”. “Não quero antecipar as negociações, mas estamos na fase decisiva para alcançar um entendimento. O presidente Trump está determinado a fechar este acordo”, disse Leavitt.

Trump, por sua vez, manteve uma posição otimista, mas cautelosa. “Acho que estamos a ir bem com a Rússia. Vamos ver se há algo a anunciar até terça-feira. Já houve muito trabalho feito no fim de semana e queremos ver se conseguimos pôr um fim a esta guerra. Talvez consigamos, talvez não, mas acho que temos uma boa hipótese”, afirmou o ex-presidente. Trump acrescentou ainda que as discussões incluem temas como “território” e “centrais elétricas”, enfatizando que “muita coisa mudou desde o início da guerra”.

Os próximos desenvolvimentos nas negociações entre Trump e Putin poderão esclarecer melhor os contornos de um possível acordo de paz e a eventual cedência da Crimeia à Rússia. A comunidade internacional acompanhará de perto qualquer evolução, particularmente no que toca às reações da Ucrânia e dos aliados ocidentais. Caso a proposta avance, poderá representar uma das mudanças mais significativas na abordagem dos EUA ao conflito desde o seu início em 2022.

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