Trump e Epstein: anos de festas, segredos e amizades perigosas que fazem agora ‘tremer’ a Casa Branca

ald Trump e Jeffrey Epstein conheceram-se por volta de 1990, quando este último comprou uma mansão a três quilómetros de Mar-a-Lago, o famoso clube privado do agora presidente dos EUA em Palm Beach

Francisco Laranjeira
Julho 28, 2025
11:54

Donald Trump e Jeffrey Epstein conheceram-se por volta de 1990, quando este último comprou uma mansão a três quilómetros de Mar-a-Lago, o famoso clube privado do agora presidente dos EUA em Palm Beach. Ambos eram já figuras conhecidas nos círculos sociais da alta sociedade de Manhattan e da Flórida: nova-iorquinos ambiciosos com reputação de ostentação e mulherengos. Partilhavam a predileção por festas, ligações de alto nível e, como ambos admitiram ao longo dos anos, mulheres jovens e atraentes.

O primeiro caso registado dos dois juntos, a partilharem bebidas e gargalhadas, foi em 1992, quando Trump ofereceu uma festa em Mar-a-Lago com cheerleaders da equipa de futebol americano Buffalo Bills. No vídeo dessa noite, transmitido pela ‘NBC’ na altura, Trump aparece a apontar para as mulheres e a fazer comentários privados a Epstein, que se desmancha a rir.

Embora o presidente o negue agora, Donald e Jeff já foram inseparáveis. Alguns meses depois, o empresário George Houraney alugou Mar-a-Lago para um concurso de beleza. Ele queria o glamour da mansão e uma lista de convidados VIP. Quando o evento aconteceu, apenas Trump e Epstein estavam nessa lista. Essa noite motivou um processo judicial subsequente: Jill Harth acusou Trump de a beijar e apalpar à força num quarto de Mar-a-Lago. Afirmou ainda que uma participante lhe disse que Trump se tinha deitado na sua cama sem permissão. Desistiu do processo em 1997.

Trump chegou mesmo a convidar Jeffrey Epstein para o seu segundo casamento. Fotos antigas que agora vieram a público mostram o financeiro na receção do casamento de Donald Trump e Marla Maples no Plaza Hotel, em Nova Iorque, em dezembro de 1993. Numa foto, Epstein aparece sorridente atrás de vários convidados, incluindo o famoso radialista Howard Stern. No mesmo ano, outra imagem mostra-o com Trump e os seus filhos Ivanka e Eric na inauguração do Harley Davidson Café.

Seriam vistos juntos com frequência durante mais de uma década, até 2004, em festas privadas, desfiles de moda como o da Victoria’s Secret, inaugurações de empresas e saraus em Palm Beach, Miami e Manhattan. Partilharam mesas em jantares exclusivos, fizeram aparições públicas em Mar-a-Lago e voaram no jato de Epstein… Eram, segundo todos os relatos, amigos íntimos.

Nos registos do FBI, o nome de Trump surge em pelo menos sete voos daquele jato. É mencionado dezenas de vezes nos arquivos do caso Epstein, e a procuradora-geral Pam Bondi informou-o disso em maio. Apesar das suas promessas, não tornou estes arquivos públicos em seis meses no cargo.

Epstein foi cúmplice de Trump durante o seu divórcio de Marla Maples, quando este iniciou a sua relação com Melania Knauss, agora primeira-dama. Em 2000, os quatro — Trump, Melania, Epstein e a namorada — posaram juntos numa festa em Mar-a-Lago, numa imagem que hoje é desconfortável.

De facto, numa conversa gravada pelo jornalista Michael Wolff em agosto de 2017, Epstein afirmou que Trump e Melania passaram a primeira noite juntos a bordo do seu avião privado, apelidado de “Lolita Express”. Segundo Epstein, a relação entre os dois começou ali, ainda antes de se tornarem oficialmente um casal.

Dez anos de camaradagem

Wolff perguntou-lhe como sabia tudo aquilo. A resposta de Epstein foi direta: “Fui o amigo mais próximo de Donald durante dez anos.” Nestas gravações, Epstein descreveu Trump como um homem obcecado em seduzir as mulheres dos seus amigos e detalha alegadas manobras para o conseguir, incluindo fazê-las ouvir secretamente as conversas íntimas dos seus maridos. Referiu-se ainda a encontros que os dois terão tido com mulheres em Atlantic City e na Trump Tower, retratando uma amizade baseada no exercício de poder, ostentação e desejo.

As gravações fazem parte do arquivo de Wolff, utilizado no seu livro “Fogo e Fúria”, e contradizem o relato público de Trump, que procura distanciar-se de Epstein desde a sua detenção em 2019. O presidente classificou as gravações como “falsas difamações” e “interferência eleitoral”.

O papel de Gshislaine Maxwell

De braço dado com Epstein, uma britânica morena, de cabelo curto e olhar plácido e sorridente, começou a aparecer com frequência em Mar-a-Lago. O seu nome era Ghislaine Maxwell. Era filha de um magnata da imprensa, amiga — e, por vezes, até mais — de Epstein. Em Palm Beach, movia-se com à-vontade, elegância e discrição, mas com uma função específica: ser a sua intermediária.

De acordo com vários testemunhos tornados públicos no seu julgamento, Maxwell recrutou jovens raparigas para Epstein, prometendo-lhes trabalho como massagistas e, depois, induzindo-as numa rede de abusos sexuais que servia o seu parceiro e os seus poderosos comparsas.

Atualmente, Ghislaine Maxwell cumpre uma pena de 20 anos numa prisão federal por tráfico sexual de menores. Segundo o seu advogado, ela está a cooperar com o Departamento de Justiça. A partir da sua cela, foi interrogada várias vezes por procuradores que tentavam reconstruir o âmbito da rede e esclarecer os laços com figuras políticas, empresariais e diplomáticas que orbitavam Epstein.

No verão de 2000, enquanto Donald e Jeffrey partilhavam festas, voos e jantares, uma jovem loira de olhos azuis, com um ar inocente, trabalhava no balneário de Mar-a-Lago, funcionária de Trump. Ela tinha conseguido o emprego porque o seu pai era técnico de manutenção lá. O seu nome era Virginia Roberts, mais tarde conhecida como Virginia Giuffre. Ela era da Califórnia. Tinha 16 anos na altura. De acordo com o seu testemunho, foi recrutada por Maxwell enquanto lia um manual de massagens durante o seu turno. Ofereceu-lhe um emprego como massagista particular de Epstein. O que se seguiu, alegou anos mais tarde, foi uma rotina de abusos, viagens em jatos privados e encontros forçados com homens poderosos.

Foi a primeira vítima a quebrar o silêncio. Processou Epstein, nomeou Maxwell como recrutadora e acusou o príncipe André de abusos sexuais quando esta era menor. Em 2021, ela processou-o em tribunal federal. Um ano depois, o príncipe fez um acordo extrajudicial por uma quantia confidencial. Foi a primeira a dar um passo corajoso, a que lhe puxou o tapete. Ela nunca superou o trauma daqueles anos. Giuffre suicidou-se a 25 de abril na sua quinta na Austrália Ocidental. Tinha 41 anos. O seu testemunho foi fundamental para a queda de Epstein e para a condenação de Maxwell. A sua história é uma das peças centrais do caso.

O presidente nega agora saber alguma coisa sobre as aberrações de Epstein, que os tribunais tentaram provar: que a sua fortuna adveio em grande parte da construção de uma vasta rede de exploração infantil para as colocar ao serviço de um bando de milionários sem escrúpulos que pagavam para as aproveitar nos seus voos, na sua remota ilha das Caraíbas, nas suas mansões fortificadas.

Mas devia saber alguma coisa, dadas as suas declarações em 2002, quando ainda era próximo de Epstein. “Conheço o Jeff há 15 anos. É um tipo porreiro. É muito divertido estar com ele. Ele até disse que gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são bastante jovens”, disse Trump à ‘New York Magazine’.

Zanga por causa de uma mansão

A zanga entre Trump e Epstein ocorreu em 2004, por causa de uma mansão. Ambos tentaram comprar a chamada Maison de l’Amitié, uma ampla residência à beira-mar em Palm Beach que tinha caído em desuso. Os seus advogados apresentaram ofertas concorrentes, mas foi Trump quem a conquistou por cerca de 41 milhões de dólares. Anos mais tarde, o próprio contou que isso marcou o fim da sua amizade com Epstein.

Trump citou posteriormente outro motivo: que Epstein se tinha comportado de forma inadequada com a filha de um membro do clube Mar-a-Lago, e que por isso se tinha distanciado da relação. Mas a disputa pela mansão deixou claro que já não eram aliados.

Um ano depois, a Polícia de Palm Beach iniciou a investigação que acabaria por revelar a rede de tráfico sexual de Epstein. A queda foi lenta. O círculo começou a fechar-se. E Trump, que estava lá dentro, tentou escapar. Tem-se tentado distanciado há duas décadas.

O caso foi posteriormente apresentado aos procuradores estaduais e federais, mas Epstein conseguiu evitar o julgamento. Em 2008, assinou um acordo secreto de confissão de culpa: declarou-se culpado de uma acusação menor e passou treze meses na prisão do condado, com liberdades diárias. O acordo, negociado por advogados de renome como Alan Dershowitz e Ken Starr, concedeu-lhe, e aos seus cúmplices, imunidade federal. O procurador que o assinou foi Alexander Acosta, que mais tarde se tornaria secretário do Trabalho na administração Trump.

Durante anos, Epstein viveu sem consequências, viajando entre Nova Iorque, Palm Beach e a sua ilha privada nas Caraíbas. Em 2019, tudo mudou. Uma série de reportagens do ‘Miami Herald’ e novas alegações, como a de Giuffre, levaram à sua detenção no aeroporto de Teterboro. Um mês depois, foi encontrado morto na sua cela.

Oficialmente, foi suicídio, mas as câmaras de vigilância falharam, os guardas aparentemente dormiram e a autópsia deixou mais perguntas do que respostas. A partir da prisão, Ghislaine Maxwell está agora a manifestar-se e pode lançar mais luz sobre o assunto e sobre a sua relação com Trump.

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