
Transição verde “requer financiamento” e “traz desafios sem paralelo na história económica”, diz Administrador do BdP
Luís Laginha de Sousa afirmou que alguns temas ligados à sustentabilidade ambiental, como redução das emissões de dióxido de carbono, o combate às alterações climáticas e a proteção da biodiversidade “ainda não são familiares para os bancos centrais”, mas “o caminho está a ser feito”.
Num discurso na conferência “Smart Growth: o Papel da Economia Circular”, decorrida no dia 5 de maio, promovida pela Fundação Serralves e pela ASWP, o Administrador do Banco de Portugal sublinhou que “apesar de a abordagem principal dos Bancos Centrais ser a de olhar para a realidade com o filtro das preocupações, sobretudo no sentido de identificar os potenciais riscos para a estabilidade financeira”, Portugal apresenta oportunidades relevantes.
O responsável aponta como exemplo a Zona Económica Exclusiva do país como uma fonte de importantes “serviços efetivos de biodiversidade a toda humanidade”, bem como o potencial que essa mesma zona tem no que toca à captura de carbono.
Também é possível contrariar a perda de diversidade biológica se se converter os ecossistemas em fontes de rendimento. Quanto maior for a saúde desse ecossistema, maior será o rendimento produzido, o que constitui um importante incentivo à sua conservação. “Encontrar formas de atribuir o rendimento a quem preserva ou aumenta o capital natural e cobrar o preço adequado a quem utiliza e consome esse mesmo capital natural é o que a teoria económica sugere que seja feito”, sublinha Luís Laginha de Sousa.
O sistema financeiro deve transformar-se “para que a economia possa percorrer o caminho da chamada transição energética, que é o caminho que nos pode levar até à neutralidade carbónica”, refere, acrescentando que a União Europeia precisaria de “investimentos adicionais equivalentes a 2,1% do PIB, por ano se quiser alcançar o objetivo de reduzir em 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030”. As estimativas do FMI apontam para investimentos de 0,6% a 1% do PIB global por ano para se conseguir alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
O Administrador do BdP destacou que as políticas públicas são essenciais para colocar o sistema financeiro ao serviço da transição energética, e vice-versa, e para promover e consolidar a dimensão da sustentabilidade ambiental das atividades económicas.
Laginha de Sousa frisou que os bancos centrais não se podem alhear dos assuntos das alterações climáticas, da perda de biodiversidade e da transição energética, principalmente depois de terem tomado consciência de que “as alterações climáticas são uma importante fonte de risco para as instituições financeiras”.