Escolas na Rússia obrigadas a transmitir propaganda pró-guerra. Funcionários e estudantes coagidos a denunciar quem contrariar o Kremlin
As instituições de ensino russas têm sido transformadas em câmaras de eco para a narrativa oficial do Kremlin e são incentivadas as denúncias contra professores, funcionários e alunos que tentem difundir mensagens avessas ao esforço de guerra na Ucrânia.
Desde que a Rússia lançou a investida militar contra o país vizinho, a 24 de fevereiro, em muitas escolas por toda a Rússia foram colocados símbolos evocativos da guerra e são mostrados aos alunos vídeos dos discursos do Presidente russo, Vladimir Putin, nos quais enaltece o esforço de guerra e transmite a linha de pensamento oficial do Kremlin.
Informações avançadas pelo ‘The Moscow Times’ dão conta de que professores nas escolas russas são obrigados a organizar reuniões nas suas turmas em que é incutido nos mais novos o apoio pela guerra na Ucrânia e a desconfiança e o ódio daqueles que tentem contrariar a narrativa oficial.
Daniil Ken, líder de um sindicato independente de professores, contou a esse órgão de comunicação social “o que se poderá considerar como propaganda pró-guerra está a acontecer na maioria das escolas em todo o país”, acrescentando que mais de 90% dos estabelecimentos de ensino já se posicionaram publicamente a favor da guerra.
Um dos professores, que falou em anonimato, explica que quaisquer tentativas de transmitir mensagens anti-guerra são fortemente reprimidas.
Ken avança que os professores e funcionárias escolares que se recusem a veicular propaganda pró-guerra não serão punidos criminalmente, mas verão os seus benefícios serem cortados, o que faz, ainda que oficiosamente, aumentar a pressão sobre esses profissionais para se alinharem com o pensamento disseminado pelo Kremlin.
O líder do sindicato aponta que recebe todas as semanas dezenas de carta de professores que foram despedidos, pressionados para sair ou multados pelas suas posições contra o esforço de guerra. Esse número poderá ser bastante superior, pois muitos profissionais escolares têm medo de se pronunciar abertamente sobre o assunto, receando represálias.
Em março, os legisladores russos endureceram a lei de combate à disseminação de notícias falsas, que passou a abranger referências que divirjam da narrativa oficial do governo. Aqueles que transmitirem mensagens que contrariem o Kremlin arriscam uma pena de prisão até 15 anos e uma multa até 13 mil euros, segundo o ‘Politico’.
Logo após o início da guerra na Ucrânia, o governo russo instou os editores de manuais escolares e outros livros pedagógicos a minimiarem as referências à Ucrânia e a Kiev, como forma de apertar o controlo da mensagem que o Kremlin pretende enraizar na sociedade russa.