‘Santo Graal’ do tratamento do cancro? Cientistas testam terapia que “aniquila” tumores sólidos sem danificar células saudáveis

Num estudo publicado na revista científica ‘Cell Chemical Biology’, a quimioterapia direcionada, chamada de AOH1996 e em desenvolvimento há 20 anos, tem-se mostrado promissora nos estudos pré-clínicos

Francisco Laranjeira
Agosto 3, 2023
8:00

Uma novo medicamento “que mata o cancro” está a “aniquilar” tumores sólidos nas pesquisas iniciais, isto quando deixa células saudáveis inalteradas. Num estudo publicado na revista científica ‘Cell Chemical Biology’, a quimioterapia direcionada, chamada de AOH1996 e em desenvolvimento há 20 anos, tem-se mostrado promissora nos estudos pré-clínicos, tendo como alvo uma variante cancerígena de uma proteína chamada antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA).

Os investigadores testaram o AOH1996 em mais de 70 linhagens de células cancerígenas e várias células normais de controlo e descobriram que a molécula mata seletivamente as células cancerígenas, interrompendo o ciclo reprodutivo celular normal.

Na sua forma mutante, o PCNA é “crítico” na replicação do ADN e na reparação de todos os “tumores em expansão”, referiu Linda Malkas, cientista da City of Hope, uma das maiores organizações de pesquisa e tratamento de cancros nos Estados Unidos. “O PCNA é como um grande hub de terminal aéreo que contém vários portões de avião. Os dados sugerem que o PCNA é alterado exclusivamente nas células cancerígenas, o que nos permitiu projetar uma terapia que visou apenas a forma de PCNA nas células cancerígenas.”

Assim, a nossa terapia “para matar um cancro é como uma tempestade de neve que fecha um importante hub de companhias aéreas, que fecha todos os voos de entrada e saída apenas em aviões que transportam células cancerígenas”, explicou a especialista, referindo que “a maioria das terapias direcionadas concentra-se num único caminho, que permite que o cancro sofra mutações e eventualmente se torne resistente”.

O AOH1996 está atualmente a passar por um ensaio clínico de Fase 1 e os resultados preliminares não mostram toxicidade para as células normais, enfatizando ainda mais o seu potencial, que tem sido eficaz no tratamento de células derivadas de cancro da mama, próstata, cérebro, ovário, colo do útero, pele e pulmão. O ensaio clínico, previsto para os próximos dois anos, visa determinar a dose máxima tolerada de AOH1996 e avaliar a sua eficácia preliminar em adultos com tumores sólidos que não responderam aos tratamentos padrão.

Um dos aspetos mais promissores do AOH1996 é o seu uso potencial em terapias combinadas. Em testes de laboratório, a droga demonstrou aumentar a suscetibilidade das células cancerígenas a agentes que danificam o seu ADN. O nome AOH1996 foi atribuído em homenagem a Anna Olivia Healey (AOH), uma jovem nascida em 1996 que infelizmente não conseguiu vencer o cancro.

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