A Rússia voltou a colocar os Estados Unidos no centro da polémica sobre as explosões que, em 2022, danificaram gravemente os gasodutos Nord Stream, infraestrutura que transportava gás natural da Rússia para a Europa. O porta-voz do presidente Vladimir Putin, Dmitry Peskov, afirmou hoje que seria “impossível” a Ucrânia ter realizado o ataque sem que a administração de Joe Biden tivesse conhecimento prévio.
As declarações foram divulgadas pela agência estatal russa RIA, esta sexta-feira, e intensificam as acusações que Moscovo tem dirigido tanto a Kiev como a Washington desde o incidente, ocorrido nos primeiros meses da invasão russa em larga escala contra a Ucrânia.
Peskov não deixou margem para dúvidas ao responsabilizar Washington pela alegada cumplicidade:
“Quem, por assim dizer, facilitou isto — é óbvio que, sem o conhecimento da administração do Presidente Biden nos Estados Unidos, tais ações por parte da Ucrânia e do regime de Kiev teriam sido impossíveis”, declarou o porta-voz do Kremlin, citado pela RIA.
Moscovo tem reiteradamente acusado a Ucrânia de estar por detrás da operação que inutilizou parte da infraestrutura energética, considerada estratégica para o abastecimento de gás russo à União Europeia.
Ucrânia nega, investigação alemã prossegue
Kiev tem rejeitado qualquer envolvimento na sabotagem, sublinhando que não tinha capacidade nem interesse em atacar o Nord Stream, apesar de o gasoduto representar um dos principais instrumentos de pressão energética de Moscovo sobre a Europa.
As autoridades alemãs, responsáveis pela investigação judicial ao caso, anunciaram em agosto de 2025 a detenção de um cidadão ucraniano de 49 anos, suspeito de ligação ao ataque. A prisão foi vista como um passo importante no inquérito, mas até agora não foram apresentadas conclusões definitivas sobre a autoria.
Moscovo mantém pressão política
A acusação direta contra a administração norte-americana surge num momento em que as relações entre Moscovo e Washington permanecem em forte tensão, três anos após a invasão da Ucrânia. Para o Kremlin, a alegada participação dos EUA reforçaria a narrativa de que o Ocidente está envolvido de forma ativa não só no apoio militar a Kiev, mas também em operações clandestinas contra os interesses russos.
Até ao momento, a presidência norte-americana não reagiu às declarações de Peskov. A revista Newsweek confirmou ter contactado o gabinete de Joe Biden para obter comentário, mas sem resposta até à publicação.
As explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e 2 ocorreram em setembro de 2022, no Mar Báltico, e provocaram danos significativos na infraestrutura. A destruição foi considerada por vários governos europeus como um dos mais graves ataques a infraestruturas energéticas da região.
Para Moscovo, a sabotagem visava fragilizar ainda mais a sua posição no mercado energético europeu, num contexto em que a guerra na Ucrânia já tinha levado a União Europeia a reduzir drasticamente a dependência do gás russo.














