Randstad Insight: A humanização das empresas

Por José Miguel Leonardo | CEO da Randstad Portugal

Numa altura marcada por alterações em vários vectores do mercado, com taxas a disparar e preços a aumentar, começo com uma reflexão sobre o que o mercado nos pode ensinar sobre o desafio actual das empresas.
Pensemos nas alterações do preço do combustível. Uma semana aumenta, na seguinte mais um aumento exponencial, mas na próxima já se prevê uma descida considerável. E se este cenário se reflectisse nas organizações? Ora imagine: uma semana todos os profissionais são produtivos, entregam além do esperado mas na seguinte ninguém está motivado e todos os projectos parecem estar atrasados. Certamente, um cenário caótico.
Mas se para muitos isto pode parecer um filme de terror, apropriado ao mês em que se celebra o Dia das Bruxas, a verdade é que pode ser uma realidade, caso os líderes não coloquem as suas equipas em primeiro lugar.
E o que quero dizer com isto? Há muito que falamos da importância da retenção, e a verdade é que nada mais é do que ter profissionais felizes. E isto diz-nos o Workmonitor deste ano da Randstad, em que as empresas inquiridas apostaram na felicidade das equipas ao adoptar medidas como aumento da flexibilização tanto nos horários de trabalho (18%) como no local de trabalho (22%) e aposta em novas formações (18%). Estas foram medidas tomadas após as equipas serem consultadas e o segredo da retenção de talento é este mesmo, ouvir o que as equipas mais procuram e pôr em prática, da melhor forma possível. E acredito que se o estudo tivesse sido aprofundado ao final deste ano, a produtividade também teria tido um impacto bastante positivo, porque no final do dia profissionais felizes constroem empresas felizes e de sucesso.
Mas atenção, não é uma receita perfeita, isso é certo. Isto porque podemos estar a falar de práticas de work-life balance, de flexibilidade horária ou até programas de bem-estar mas no centro de tudo está a acção de ouvir e priorizar o que os colaboradores mais procuram dentro dos benefícios não monetários e torná-lo num plano de acção. Arrisco-me até a dizer que as empresas devem trabalhar este plano como se de um salário emocional se tratasse, pois falamos de práticas que têm um impacto nas pessoas não só na esfera profissional mas também na pessoal.
Cada vez mais os líderes têm nas suas funções o desafio de gerir as necessidades das equipas e é esta valorização dos profissionais que conta no final do dia como factor de retenção. É ouvir e humanizar o trabalho diário e compreender que os colaboradores são pessoas individuais, cada um com as suas histórias de vida e valor que trazem para a organização. Mas não se depreenda que esta estratégia é apenas para os “de dentro”. Esta é na verdade uma prática que também se aplica à atracção de novos profissionais.
É com a missão de humanizar as organizações em mente que os líderes de hoje devem olhar para o real valor das pessoas, pois só desta forma teremos empresas de sucesso.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 200 de Novembro de 2022