Questões sobre os potenciais das renováveis

Opinião de Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Executive Digest
Julho 27, 2023
11:06

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Foi apresentado muito recentemente um estudo sobre os potenciais técnicos da energia renovável em Portugal. E, para quem não é especialista, convém desde logo saber o que é isso de potencial técnico. Para depois se poderem entender as questões que devem ser colocadas.

Já há alguns meses atrás me debrucei um pouco sobre esta questão, mais especificamente para a área da biomassa. Para quem não teve oportunidade de ler o meu artigo de opinião “Encontros e desencontros sobre a biomassa disponível” (Executive Digest, 4 maio de 2023), aqui ficam algumas considerações sobre o que é o potencial e que tipo de potencial.

Assim, o potencial teórico refere-se à quantidade de recurso que é teoricamente utilizável numa dada região num determinado período. O potencial técnico (que aqui abordamos) é a parte deste potencial teórico que contabiliza certos fatores limitativos específicos de cada renovável e os diminui do potencial teórico. Depois temos o potencial económico que é a fração do potencial técnico que está dentro dos limites de rentabilidade económica, que depende naturalmente de diferentes parâmetros. E ainda temos o potencial de implementação sustentável que normalmente é parte do potencial económico que pode ser utilizado respeitando as condições, regulamentos e restrições sociais, políticos e ambientais. Por vezes este último potencial está incluído no potencial técnico. Acontece, por isso, que muitas vezes se confundem estes potenciais.

Neste tipo de estudos, como o inicialmente referido, entra-se em linha de conta com muitos parâmetros, condições, restrições, considerações, que normalmente estão associados à tecnologia energética específica considerada. Trata-se sem dúvida de um trabalho difícil, assente em muitas premissas e em dados por vezes difíceis de compatibilizar. Estes estudos apresentam localizações geográficas disponíveis e adequadas em função dos diferentes recursos energéticos considerados, quantificando-os. O que se trata de informação extremamente útil quer para decisores políticos, quer para decisões de investimento ou para planeamento estratégico nacional e empresarial.

Porém, há uma “camada” de informação que muitas vezes não é considerada, nomeadamente no caso da produção de energia elétrica, que se trata da questão da injeção na rede. Esta é uma questão fulcral, dado que não basta produzir eletricidade, é necessário injetá-la na rede e é necessário que a rede esteja preparada para a receber. Acresce ainda o aspeto de ser ideal que a produção da energia seja geograficamente o mais próximo possível do seu consumo.

O rápido crescimento das energias renováveis não tem sido acompanhado por uma correspondente evolução das redes de distribuição e transporte. É sabido que os excedentes de energia renovável estão a crescer em todo o mundo. Isso provoca congestionamentos que têm custos elevados o que se reflete no preço da energia a pagar pelos consumidores.

Por outro lado, quando pretendemos saber qual a quantidade de produção de energia de poderá vir a estar disponível, isso está relacionado não apenas com o recurso (luz solar, vento…) mas também com a tecnologia que transforma esse recurso numa forma de energia utilizável. Por isso, a eficiência dessa tecnologia tem uma influência muito grande. Dada a acelerada evolução tecnológica neste domínio, este fator tem que ser periodicamente revisitado, atualizado e os cálculos aferidos.

O próprio recurso pode ter alterações, devido às alterações climáticas. Todos temos ouvido falar em fenómenos meteorológicos extremos, alteração das correntes marítimas, vagas de calor etc. Estas alterações podem ter influência no recurso em si, ou na localização geográfica das instalações.

Assim, estas e outras questões têm também que estar na mente dos decisores políticos ou empresariais quando utilizam nos seus processos de decisão “ferramentas” como as indicadas. Disso depende o sucesso das políticas ou dos negócios!

 

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