Quem não faz nada, critica tudo e um par de botas…
Por Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati
As críticas à Jornada mundial da Juventude (JMJ) faz lembrar a pequenez do nosso país, de políticos oportunistas, vários comentadores televisivos, alguns jornalistas medíocres e de alguns dos nossos cidadãos. Relembremos que esta decisão da JMJ ser em Portugal data de 2019, no Panamá. Ou seja tivemos 4 anos de preparação. O estado vai investir 30m€ na JMJ, assim como a Câmara Municipal de Lisboa e de Loures, investirão um pouco mais. Para receber cerca de 1,5 milhão de visitantes durante uma semana e ver o nosso país em todos os noticiários do globo. É um evento mundial. Para além disso, para reabilitar uma zona de 70 hectares da frente ribeirinha de Lisboa e Loures. Como aconteceu com o Parque das Nações na Expo 98. Vão ficar estruturas definitivas como a solução do aterro nesta zona, assim como a ponte pedonal. Portanto discutir detalhes como o palco, é de uma pequenez gigantesca.
Mais ainda quando se estima que o retorno seja o mesmo que em 2011, em Madrid, que com um investimento de 50m€ gerou retorno direto imediato de 354m€ (mas em Madrid o custo não foi suportado pelo erário público, mas pelos patrocinadores e peregrinos; algo que a coordenação do evento deveria tentar angariar). Sem contar com o “nation headed brand value” e portanto o valor gerado indirectamente. As despesas equivalem portanto a 10% do retorno direto estimado, sem considerar o indirecto que será bastante superior.
A minha única dúvida prende-se com a remuneração do arquiteto José Sá Fernandes de 210.000€ (segundo o CM) para um evento que dura uma semana… (mas deste fato ninguém fala). Aliás que pelos vistos, nem sabia o custo do dito “palco”. A crítica aqui devia ser em relação à falta de coordenação, organização, preparação, tudo feito “à última da hora” e à angariação de apoios financeiros. A coordenação deveria juntar todas as partes e maximizar a eficiência de todos. E isto pelos vistos não aconteceu. Não é o evento em si ou sequer o custo do palco, mas este desconhecimento das partes, a falta de coordenação, o “passa desculpas” ou até o concurso público das casas de banho só estar pronto em janeiro deste ano.
Critica-se o valor que se irá gastar em alimentação, 30 milhões de euros para 1,5 milhões de pessoas durante 6 dias. Ou seja, 20€ por pessoa para 6 dias. Coitados, nem num “fast food” se conseguirão alimentar. Ou a impossibilidade de se reutilizar o palco pois tem uma cruz no centro. Mas a engenharia não encontrará uma forma de retirar a cruz sem estragar o palco?
Ou pior quando utilizam a religião como forma de patrocínio de um estado laico para um evento católico. Só este evento de 1 semana traz 10% dos turistas que visitaram Portugal em todo o ano de 2021. Ou seja não é apenas um evento católico, mas um evento mundial, com uma promoção de Portugal num público alvo que um dia vai viajar, vai ser nómada digital, que vai divulgar o país nas redes sociais…
Portanto a exigência de rigor nas contas e a necessidade de medir o impacto deste apoio é imperioso. Mas o que se vê mais, é a pequenez e vontade de criticar quem faz alguma coisa, criticando o detalhe.
Portugal é o quinto país com maior contributo do turismo para o PIB. O o turismo já foi a origem em Portugal de 19,1% da riqueza produzida em Portugal (WTTC 2018). A média na União Europeia, é de 10,1%. Em valor absoluto da contribuição do turismo para o PIB, de acordo com o WTTC, Portugal aufere 45 mil milhões de dólares, à frente da Grécia, com 44 mil milhões. E em 2020 o setor foi responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais.
Para além de tudo o que esteja relacionado com turismo e impacto directo, permite ainda a revitalização de espaços antes abandonados, empregabilidade, aumento do rendimento per capita, empreendedorismo, mais impostos, maior produção local, criação de organizações sustentáveis!
Portugal foi considerada a melhor marca turística da Europa e a terceira melhor do mundo, segundo o Country Brand Awards 2020. O país lidera o ranking na região com 7,37 pontos em 10. E certamente não foi apenas pela gastronomia, pela meteorologia, pela simpatia, pela segurança, pelo preço… foi por tudo isto ser divulgado junto dos mercados emissores de turistas. Algo que este evento vai permitir fazer a nível mundial, para além do impacto positivo imediato e directo. Assim como é o investimento nas 10 edições do web summit de 110 milhões de euros pela CML que trouxe 490.000 participantes estrangeiros e a imagem de um Portugal moderno e digital. Ou da Moda Lisboa e do Rock in Rio.
Lembro-me ainda quando alguns destes críticos, indignados criticaram a construção do CCB para acolher a sede da presidência portuguesa da UE e posteriormente para desenvolver atividade cultural. O custo era inaceitável, diziam os críticos. Custou 27 milhões de euros em 1992. Mas atualmente é um dos melhores equipamentos culturais do país e recebe 143.000 visitantes anuais. E os críticos desapareceram.
Algo que não vi criticarem tanto como provavelmente deviam, foram os custos da organização do Campeonato Europeu de Futebol em Portugal. Representou um custo efectivo para a Administração Central de 136 milhões de euros (pois o Estado vai conseguiu recuperar 71 dos 208 milhões de euros que efectivamente teve com custos directos). O impacto económico do Euro 2004 ascendeu a 71 milhões de euros, em impostos e outras receitas. Ou seja o resultado financeiro directo foi negativo e agora temos uns “monos” de estádios em alguns locais, que não servem para nada. Podemos alterar para JMJF (sendo o F de futebol pois com o futebol quase nunca há divergências).
Deve haver uma separação entre Igreja e estado, mas não devemos focar na “árvore” do palco do Dr Moedas e esquecer a “floresta” da promoção mundial do país. E lembrar “que quem nunca faz nada, critica tudo e um par de botas”!