Quase toda a vida animal na Terra evoluiu a partir deste verme. Humanos incluídos

A ‘Ikaria wariootia’, uma espécie de verme, que viveu há 700 milhões de anos, foi o antepassado de todos os seres ‘bilaterais’ e moldou de forma significativa a trajetória evolutiva dos animais complexos.

Pedro Gonçalves
Maio 11, 2024
16:00

Ao longo da vasta história da Terra, a vida tem seguido um curso complexo, resultando na multiplicidade de espécies que hoje povoam o nosso planeta. No entanto, este percurso não foi fácil, e em várias ‘encruzilhadas’ da evolução, diferentes escolhas poderiam ter levado a resultados completamente distintos, onde organismos como nós talvez não existissem.

Desde LUCA, o Último Antepassado Comum, que há mais de 4.000 milhões de anos estabeleceu a base da nossa forma de vida com informação genética facilmente transmitida de geração em geração, até a Picaia, que há cerca de 500 milhões de anos foi a primeira a adotar a fórmula de ter os ossos dentro do corpo, muitos foram os marcos evolutivos que nos trouxeram até aqui.

A mais recente descoberta, liderada por investigadores do Centro de Regulação Genómica (CRG), em Barcelona, e publicada na revista ‘Nature Ecology and Evolution’, revela como uma criatura simples, a ‘Ikaria wariootia’, uma espécie de verme, que viveu há 700 milhões de anos, foi o antepassado de todos os seres ‘bilaterais’ e moldou de forma significativa a trajetória evolutiva dos animais complexos.

“O nosso trabalho faz-nos repensar os papéis e funções desempenhados pelos genes. Mostra que genes cruciais para a sobrevivência, conservados ao longo de milhões de anos, também podem adquirir novas funções na evolução com muita facilidade. Reflete o ato de equilíbrio da evolução entre a preservação de funções vitais e a exploração de novos caminhos”, conclui Manuel Irimia, coautor do artigo.

Uma nova datação deste que é o organismo vivo mais antigo também oferece novos insights sobre os eucariotas, as células com núcleo presentes em todas as plantas e animais. Esta criatura ancestral foi a primeira a ter uma frente e uma parte traseira, uma inovação revolucionária na época que estabeleceu um plano corporal básico herdado por todos os animais bilaterais, incluindo a maioria dos animais e os seres humanos.

Este antepassado comum viveu nos antigos oceanos da Terra, e é o último ancestral comum de todos os seres bilaterais, um vasto grupo que inclui vertebrados e invertebrados. Os investigadores identificaram mais de 7.000 grupos de genes que remontam a este antigo ancestral comum, com quase metade s a serem ‘reutilizados’ por diversos animais em partes específicas do corpo.

Observando mais de perto, os cientistas descobriram que a reutilização destes genes ancestrais ocorreu devido a uma série de erros fortuitos no processo de recombinação genética ao longo da evolução. Isso levou ao desenvolvimento de novas funções específicas, como a especialização de genes para órgãos como os testículos e o sistema nervoso.

Esta especialização ancestral também foi fundamental para o desenvolvimento de sistemas nervosos complexos, com genes desempenhando papéis críticos na formação de estruturas como as bainhas de mielina em vertebrados, essenciais para a transmissão rápida de sinais nervosos.

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