Andrej Babis tomou posse esta segunda-feira como primeiro-ministro da República Checa, liderando uma coligação populista e eurocética que inclui forças antieuropeias e pró-Rússia. A chegada do bilionário checo ao poder reforça um novo eixo político no flanco oriental da NATO, ao lado dos Governos da Hungria e da Eslováquia, alinhados com o Kremlin em várias matérias estratégicas.
O partido ANO, economicamente liberal mas politicamente crítico de Bruxelas, venceu as eleições de outubro e conseguiu formar Governo com o SPD — força de extrema-direita, antieuropeia e pró-Rússia — e com o partido Motociclistas Checos, que se opõe às políticas climáticas da União Europeia. Na cerimónia de tomada de posse, Babiš prometeu “lutar pelos interesses de todos, em casa e no mundo”, sinalizando que a agenda europeia e internacional será prioritária. O presidente checo, Petr Pavel, formalizou a nomeação, afirmando confiar na sua dedicação ao país.
Coligação marcada por polémicas e vetos presidenciais
Segundo o jornal espanhol ‘ABC’, a formação do executivo foi bloqueada durante meses devido ao perfil de alguns dos parceiros. O caso mais sensível foi o de Filip Turek, líder honorário dos Motociclistas Checos, cuja nomeação para ministro foi recusada por Petr Pavel. Turek, descrito como neonazi, manteve atividade nas redes sociais sob o pseudónimo “@DolphSegal”, combinação que remetia para simbologia associada ao nazismo. O presidente considerou incompatíveis com a lei checa declarações racistas feitas por Turek, incluindo comentários depreciativos sobre Barack Obama, sobre comunidades ciganas e sobre mulheres.
A situação acabou por ser ultrapassada quando Turek foi hospitalizado devido a uma hérnia discal, impedindo-o de integrar o Governo. Outro obstáculo foi o consórcio Agrofert, conglomerado de mais de 200 empresas propriedade de Babis, beneficiário regular de fundos europeus e apoios estatais, gerando potenciais conflitos de interesses. O líder do ANO anunciou a transferência dos ativos para uma estrutura fiduciária administrada por um gestor independente, permitindo destravar a tomada de posse aos 71 anos.
Agenda externa: Ucrânia, UE e Pacto Ecológico
No plano internacional, Babiš prometeu cortar do orçamento nacional a ajuda militar à Ucrânia e admitiu encerrar a iniciativa de munições checas que abastece Kiev com material de grosso calibre. Argumenta que o programa não é transparente e gera custos excessivos. O novo primeiro-ministro afirmou ainda querer participar na próxima cimeira europeia de 18 e 19 de dezembro, reforçando o seu posicionamento dentro do Conselho Europeu.
Durante a campanha, defendeu o fim do Pacto Ecológico Europeu e contestou a eliminação gradual dos motores de combustão interna até 2035. Também garantiu que o ANO continuará a cooperar com o Fidesz húngaro e com o FPÖ austríaco no grupo parlamentar “Patriotas pela Europa”.
Um aliado político útil para Moscovo
O ‘ABC’ sublinha que Babia já ocupou o cargo de ministro das Finanças entre 2014 e 2017 e foi primeiro-ministro durante quatro anos. Politicamente flexível, aproximou-se da extrema-direita após ter sido marginalizado pelos liberais europeus devido a casos de corrupção relacionados com o uso indevido de fundos comunitários.
As ligações sensíveis com Moscovo voltaram a ser recordadas pelo jornal espanhol, que menciona o episódio de 2021: o então ministro do Interior, Jan Hamáček, terá preparado uma viagem secreta à Rússia para negociar vacinas Sputnik V e, em contrapartida, ocultar informações sobre explosões num depósito de munições atribuídas ao GRU russo. Babis, então chefe de Governo, rejeitou qualquer insinuação de troca de favores, afirmando ser “absurdo” considerar tal hipótese.
Com a posse agora consumada, o novo executivo checo consolida um bloco político que desafia diretamente Bruxelas e fortalece, no plano geopolítico, a margem de manobra de Moscovo na Europa Central.














