A introdução da correção digital no exame nacional de Filosofia, realizada este ano como projeto-piloto pelo Ministério da Educação, suscitou críticas e preocupações por parte de alguns docentes. A Associação de Professores de Filosofia (APF) confirmou ter recebido, “informalmente”, relatos de dificuldades técnicas na plataforma de correção, bem como alterações imprevistas nos prazos. Apesar disso, a associação reconhece que outros corretores reportaram um processo “normal” ou com dificuldades resolvidas de forma célere. O apelo agora é claro: que o Instituto de Avaliação Educativa (Iave) faça uma análise detalhada dos erros reportados e proponha soluções para o futuro.
Segundo revela o Público, as dificuldades técnicas enfrentadas por professores classificadores incluíram problemas no acesso inicial à plataforma digital, provas que desapareceram do sistema e folhas digitalizadas com respostas ilegíveis, cortadas ou trocadas. Alguns docentes que partilharam os seus testemunhos com o Observador acusaram ainda o Iave de não ter respondido às suas dúvidas durante o processo. No entanto, o Ministério da Educação rejeitou qualquer falha de apoio, considerando que o balanço da iniciativa foi “muito positivo” e garantindo que, apesar da novidade, “as melhorias qualitativas necessárias” serão introduzidas no próximo ano.
A APF, embora não disponha de dados que permitam generalizar as falhas, aponta que a digitalização tem vantagens, como a organização das correções por itens, o que pode “aumentar a fiabilidade e equidade da correção”, facilitando ainda a intervenção de supervisores em casos de divergência entre classificadores. A associação sublinha, no entanto, a importância de distinguir entre falhas técnicas e procedimentais, alertando que as primeiras podem comprometer seriamente a justiça da avaliação. Por isso, exorta o Iave a apresentar respostas públicas, claras e eficazes para garantir a equidade na avaliação externa.
A digitalização da correção dos exames foi apresentada há cerca de um ano pelo secretário de Estado Adjunto e da Educação, Alexandre Homem Cristo, como uma medida que visa promover “maior justiça” no sistema de avaliação. Este ano, a iniciativa foi aplicada exclusivamente ao exame de Filosofia do 11.º ano, num sistema que distribui as provas digitalizadas por vários professores, com cada um a corrigir apenas determinados itens da prova, e não o exame completo. O modelo não será aplicado em disciplinas como Desenho A, em que a natureza das respostas exige análise integral da prova.
Em resposta às críticas, o Ministério da Educação reconheceu que, sendo um processo “inovador”, era expectável que surgissem dificuldades. Contudo, assegura que estas foram “prontamente resolvidas e esclarecidas pelo Júri Nacional de Exames (JNE) e pelo Iave”. A tutela sublinha que os professores tiveram acesso atempado à plataforma de classificação, bem como a manuais e documentos de apoio. O ministério afirma ainda que este sistema evita perdas de tempo, deslocações aos agrupamentos do JNE e facilita a especialização dos classificadores, o que contribuirá para uma aplicação mais consistente dos critérios.
Na 1.ª fase do exame de Filosofia foram realizadas 20.335 provas, tendo sido registados 380 pedidos de reapreciação — o que corresponde a 1,9% do total. Este valor está em linha com a média dos últimos anos, que ronda os 2%. Em 2024, tinham sido registados 245 pedidos em 14.368 provas (1,7%). Já a média nacional da classificação manteve-se estável: este ano, a nota média foi de 10,4 valores, apenas uma décima abaixo dos 10,5 valores registados no ano passado.














