O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros está desaparecido há um mês sem qualquer explicação e, num país onde a informação cai a conta gotas e depois de ser filtrada pelo Governo, adensa-se o mistério e correm muitos rumores sobre o que terá realmente acontecido a Qin Gang.
Esta quarta-feira Qin Gang foi oficialmente substituído no cargo por Wang Yi, que o antecedeu no cargo, entre março de 2013 e dezembro de 2022. A decisão foi anunciada numa sessão do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, o parlamento chinês.
O fim do mandato foi assinado e publicado em decreto do Presidente Xi Jinping, que também determinou a substituição do governador do Banco Central da China, Yi Gang, por Pan Gongsheng.
Qin Gang foi visto pela última vez a 25 de junho, dois dias depois da rebelião do Grupo Wagner, após uma reunião com Rudenko Andrey Yurevich, vice-ministro russo dos Negócios Estrangeiros.
Poucos dias depois a China cancelava a visita de Josep Borrell a Pequim, marcada para 10 de julho.
De 11 a 14 de julho, deveria Qin Gang participar na cimeira de MNEs da ASEAN, mas acabou substituído por Wang Yi. Também não apareceu para a visita oficial da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, ou do enviado da Presidência norte-americana para o clima, John Kerry, na primeira e segunda semana, respetivamente, de julho.
O Ministério chinês só comentou o problema no dia 11 de julho, informando que a ausência de Qin da cimeira da ASEAN se devia a a “motivos de saúde”. Depois silêncio.
Rapidamente correram os rumores de problema de saúde, potencialmente muito grave, doença súbita… Fonte oficial só comenta ao ABC: “Não temos informação disponível”.
Mas estes “motivos de saúde” podem ser eufemismo do Governo ara outra razão. Nos círculos de Pequim corre o rumor de que Qin está ausente porque está a ser castigado por ter mantido uma relação extraconjugal com uma conhecida apresentadora de televisão chinesa, da Phoenix TV, Fu Xiaotian.
A mulher não dá notícias desde que, a 11 de abril, publicava nas redes sociais que estava num avião privado a viajar de Los Angeles para Pequim. Um mês antes tinha partilhado imagens de Qin no seu programa de entrevistas e outras a bordo do mesmo avião com um bebé nos braços. Surgiram várias teorias de que a criança seria fruto da relação ‘proibida’ que o MNE chinês mantinha com a estrela de televisão.
A população está desconfiada: as pesquisas relativas ao ministro no Baidu, motor de busca mais popular da China, cresceram 5000% só na semana passada. Mais: nem o nome do ministro, nem o da suposta amante, foram bloqueados como termos de pesquisa, o que normalmente é feito com nomes envolvidos em escândalos que relacionem diretamente o Governo.
“”Uma possibilidade é que Qin Gang tenha uma doença muito grave como um cancro, mas o Governo chinês, nesse caso, já teria dito alguma coisa sobre o seu estado de saúde. O longo silêncio pode indicar que o caso está relacionado com a segurança nacional”, indica Jean-Pierre Cabestan, professor de Ciência Política na Universidade Batista de Hong Kong.
