Portugal supera Espanha e Reino Unido na digitalização dos pagamentos e no comércio eletrónico internacional

Ponto de venda tornou-se o epicentro da transformação na indústria dos pagamentos, mas milhões de estabelecimentos continuam a operar com infraestruturas obsoletas, incapazes de responder às novas exigências do consumidor digital

Executive Digest
Outubro 9, 2025
11:07

O ponto de venda tornou-se o epicentro da transformação na indústria dos pagamentos, mas milhões de estabelecimentos continuam a operar com infraestruturas obsoletas, incapazes de responder às novas exigências do consumidor digital. Portugal destaca-se na digitalização dos pagamentos, com uma taxa superior a 50%, e no comércio eletrónico internacional, com 45%, acima de Itália (39%), Espanha (29%) e Reino Unido (17%).

Estas são as principais conclusões do novo relatório da Nuek, empresa tecnológica especializada em infraestrutura de pagamentos da Minsait (Indra Group), que analisa como os pagamentos SoftPOS (Software Point of Sale) e os modelos de subscrição estão a emergir como novas alavancas de competitividade para o comércio.

O estudo “Aceitação de pagamentos nos estabelecimentos”, realizado pela Nuek em colaboração com a AFI (Analistas Financeiros Internacionais), baseia-se em mais de 5.200 inquéritos em Portugal, Espanha, Itália, Reino Unido, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Apesar do potencial tecnológico, a digitalização do ponto de venda continua limitada por barreiras de adoção, enquadramentos regulatórios desalinhados e um ecossistema fragmentado, que impede a criação de experiências verdadeiramente integradas. O relatório coloca Portugal numa posição de adoção relevante das novas tecnologias, com uma brecha geracional marcada e uma preferência persistente por métodos tradicionais, tendência que se verifica em todos os países analisados.

Portugal é o único país europeu analisado que ultrapassa os 50% de disponibilidade de pagamentos com SoftPOS, valor superior a Espanha, que se situa entre os 30% e 40%, e ligeiramente inferior a alguns países da América Latina. Esta tecnologia transforma um simples smartphone ou tablet, com tecnologia NFC, em terminais de pagamento sem contacto, permitindo que os comerciantes aceitem pagamentos sem necessidade de hardware adicional.

Existe uma forte brecha geracional: nos países europeus analisados, apenas 13% dos maiores de 55 anos já usaram SoftPOS, enquanto 42% deste grupo desconhece a possibilidade de pagar com esta tecnologia. O receio do pagamento SoftPOS em Portugal está muito associado à preferência por outros meios (28%), seguindo-se os problemas técnicos (24%), a insegurança com a tecnologia (24%) e, por fim, a falta de confiança no estabelecimento.

“Durante décadas, a aceitação de pagamentos digitais esteve limitada a um modelo físico, rígido e dispendioso”, afirma Jávier Rey, diretor executivo da Nuek, “o que vemos hoje é uma mudança de paradigma: a função do terminal integra-se no smartphone, o comércio ganha agilidade e os custos reduzem-se drasticamente. O que antes era uma limitação tecnológica é agora uma via para ativar um novo modelo operativo para os estabelecimentos que tinham ficado à margem da transformação digital.”

O relatório revela ainda que apenas 41% da população bancarizada, dos países europeus analisados, já adotou soluções de pagamento através de dispositivos móveis, comparativamente a 62% dos países da América Latina incluídos nesta análise.

Subscrições: Portugueses preferem débitos diretos

O estudo revela também que os pagamentos por subscrição (recorrentes) estão a ganhar espaço no comércio local, especialmente em negócios que procuram maior estabilidade de receita e fidelização do cliente. Na Europa, Portugal segue à frente com uma penetração de 36%. acima de Espanha, Reino Unido e Itália, cuja penetração é inferior a 33% da população bancarizada.

A realidade portuguesa mostra-nos ainda que a preferência pelos débitos diretos (44%) destaca-se neste tipo de pagamentos, valor só ultrapassado pela população do Reino Unido (68%). A comodidade, rapidez e segurança são os principais fatores de escolha; os descontos têm pouco peso.

Já na América Latina, impulsionada pelos consumidores mais jovens, 58% dos utilizadores entre os 18 e 34 anos valorizam a rapidez como fator determinante.

Pagamentos sem fronteiras: Portugal destaca-se face aos restantes países europeus

Embora o comércio eletrónico continue a crescer na Europa e na América Latina, o canal transfronteiriço ainda tem um caminho a percorrer para se consolidar como uma opção cómoda e fiável. Portugal distingue-se face aos restantes países europeus analisados, com 45%, acima de Itália (39%), Espanha (29%) e Reino Unido (17%). Entre os países analisados, apenas o Perú e Equador apresentam uma percentagem de e-commerce transfronteiriço sobre o e-commerce total mais elevada do que Portugal.

No nosso país, 53% da população bancarizada fez compras online fora da União Europeia, valor só ultrapassado na Europa pela Itália (87%), e muito acima dos números apresentados por Espanha e Reino Unido. No entanto, 60% dos portugueses inquiridos reportou problemas, entre os quais se destacam os custos adicionais e falta de transparência no câmbio, preocupações de segurança e escassez de opções de pagamento adequadas.

Na América Latina, mais de 70% dos compradores internacionais enfrentaram pelo menos um problema, contra 50% na Europa. Entre os jovens — os que mais compram online — as fricções são ainda mais frequentes, sobretudo na Europa, revelando uma desconexão entre as expectativas digitais e as capacidades do ecossistema de pagamentos.

“Portugal, tal como os restantes países europeus, apresenta uma adoção moderada de tecnologias inovadoras como SoftPOS, marcada por uma forte brecha geracional e pela preferência por métodos tradicionais entre os mais velhos”, apontou Miguel Simões, diretor de Serviços Financeiros da Minsait em Portugal.

“O comércio eletrónico internacional tem uma quota relevante, mas a experiência de consumo continua limitada por custos, segurança e opções de pagamento. Já os pagamentos por subscrição estão a ganhar terreno, destacando-se a preferência pelos débitos diretos, que representam 44% deste tipo de transações no nosso país”, concluiu.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.