A partir dos resultados da mais recente edição do estudo sobre o mercado de talento na área tecnológica, “HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal”, Hélio Costa, partner & head of Strategy and Operations Damia Group Portugal, analisa o estado actual do sector e antevê as tendências que vão marcar o futuro do mercado tecnológico.
Por Tânia Reis
O relatório, elaborado pela Damia Group Portugal em parceria com a SIXT e que reúne dados de mais de cinco mil entrevistas realizadas nos últimos sete anos, confirma a atractividade do nosso país e o investimento significativo no sector tecnológico. Ainda assim, é fundamental que as empresas ajustem a forma como atraem – sobretudo retêm – talento. As que não derem esse passo ficarão inevitavelmente para trás.
Segundo os resultados do estudo “HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal”, as tendências salariais apontam para um crescimento generalizado dos salários no sector tecnológico. Que impacto terá esta tendência no mercado de trabalho português?
Há muita competitividade no sector tecnológico, porém, a valorização dos salários não é uniforme. Enquanto algumas funções estratégicas e especializadas – como perfis ligados à inteligência artificial, cibersegurança ou gestão tecnológica – continuam a valorizar-se, também há ajustes em baixa ou estabilização noutras funções mais impactadas pela automação, por exemplo.
Com o aumento da incerteza internacional, temos vindo a observar um abrandamento no volume de contratações, substituído por decisões de recrutamento mais conscientes, estratégicas e selectivas. No entanto, Portugal continua a afirmar-se como um destino de excelência para a instalação de hubs tecnológicos. Isso confirma as nossas previsões e sustenta a valorização de alguns perfis, sobretudo os que combinam competências técnicas robustas com visão de negócio, fluência em inglês e experiência em ambientes multiculturais.
No fundo, esta tendência terá dois efeitos principais: por um lado, continuará a atrair investimento externo, impulsionando a qualificação e retenção de talento; por outro, irá exigir maior sofisticação na Gestão de Pessoas – do employer branding às políticas de compensação – para garantir que as empresas conseguem manter-se competitivas e atractivas num cenário global em constante mudança.
Há profissionais qualificados suficientes para preencher todas as vagas?
A resposta mais directa é não, e é uma realidade transversal a nível europeu. O aumento da presença de empresas internacionais em Portugal – algo extremamente positivo – trouxe consigo uma nova fasquia de exigência: são projectos com equipas globais, metodologias avançadas e que procuram experiência, para além de competência. Também não é segredo que estas empresas pagam, geralmente, salários acima da média, fazendo com que acabem por absorver a “nata” do talento tecnológico nacional.
Como descreve a atractividade de Portugal para o sector tecnológico?
Portugal continua a ser altamente atractivo para o sector tecnológico, e há inúmeros factores que têm atraído investimento estrangeiro, sendo que o acesso ao talento é um dos principais. Já não podemos dizer que seja um país de talento tecnológico barato, porque não é, mas sim com uma relação benefício/ custo acima da média europeia. O engenheiro informático português não fica a dever absolutamente nada ao engenheiro alemão ou americano.
E para o talento tecnológico, o que torna o país atractivo?
Do ponto de vista do talento, há uma perspectiva mais ambivalente, uma espécie de “mixed feelings”. Por um lado, existe um grande entusiasmo por fazer parte de projectos internacionais inovadores, com equipas multiculturais e tecnologias de ponta. Por outro, muitos profissionais sentem uma certa frustração ao confrontar a percepção criada de que “Portugal está a pagar salários de Londres ou Berlim”, quando a realidade é que apenas uma percentagem muito pequena do mercado está nesse patamar.
O que falta fazer?
Talvez o mais urgente seja uma valorização real e consistente do talento tecnológico dentro do próprio mercado nacional. Enquanto continuarmos a ter empresas em Portugal a competir globalmente por talento, mas a oferecer pacotes salariais que não acompanham essa realidade, estaremos sempre em desvantagem. Valorizar salários não é apenas uma questão de justiça ou de retenção: é uma questão de competitividade. A outra dimensão crítica tem a ver com a nossa visão sobre talento estrangeiro. Assim como há investimento estrangeiro a vir para Portugal por causa da qualidade dos nossos profissionais, também Portugal precisa de adoptar uma estratégia clara e estruturada para atrair talento qualificado de outras geografias. Estamos inseridos numa economia global, e o talento move-se com cada vez mais liberdade. Se não soubermos atrair e integrar esse talento, arriscamo-nos a perder o nosso principal activo.
Leia o artigo na íntegra na edição de Junho (nº. 174) da Human Resources.
Disponível nas bancas e online, na versão em papel e na versão digital.














