As tensões comerciais entre a Europa, os Estados Unidos e a China abrem uma janela de oportunidade para Portugal atrair investimento industrial chinês, defendeu hoje em Pequim o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, Bernardo Mendia.
Em declarações à agência Lusa à margem da visita do primeiro-ministro português, Luís Montenegro, ao país asiático, Mendia destacou diversas áreas em que as empresas chinesas são competitivas e que coincidem com prioridades europeias, como a transição energética.
“Energias renováveis, veículos elétricos, baterias, armazenamento de energia, tecnologias associadas ao 5G e a inteligência artificial são áreas em que Portugal deve dar a mão e aproveitar o facto de termos Macau como ponte”, frisou.
A Comissão Europeia impôs taxas de até 35% sobre fabricantes de carros elétricos chineses, para evitar concorrência desleal face às subvenções atribuídas pelo Estado chinês. Isto criou um incentivo à deslocalização da produção para a Europa. A fabricante chinesa BYD prevê inaugurar uma nova fábrica no sul da Hungria, num investimento avaliado em 4 mil milhões de euros. A China acumula também já mais de 10 mil milhões de euros em investimentos em Espanha, nas áreas dos veículos elétricos e da energia verde.
A CALB (China Aviation Lithium Battery), uma das maiores fabricantes chinesas de baterias, confirmou em fevereiro passado um investimento de dois mil milhões de euros em Portugal, para a construção de uma fábrica de baterias de iões de lítio em Sines, no âmbito da estratégia de expansão europeia.
Referindo-se ao investimento da CALB, Mendia considerou que esse é o tipo de projeto que “deve ser multiplicado”.
“Temos de recordar, nesta visita, as vantagens de Portugal para acolher este tipo de investimento. Não só atrai capital, como gera emprego qualificado, novas receitas fiscais e exportações futuras”, afirmou.
O responsável lembrou que Portugal chegou a atrair bastante investimento chinês em anos anteriores, mas que a concorrência aumentou, nomeadamente de Espanha e da Hungria, e que “é preciso mais”.
A guerra comercial entre Pequim e Washington ameaça penalizar a produção chinesa de quase todos os produtos exportados para os Estados Unidos, incentivando os fabricantes chineses a deslocar produção para contornar as tarifas, atualmente fixadas em 30%, como resultado de uma trégua temporária entre ambos os lados.
“É uma forma de contornar essas barreiras, mas também de gerar boa vontade e relações duradouras, tal como a Europa fez quando deslocalizou produção para a China há 20 ou 30 anos”, afirmou.
Mendia advertiu, contudo, que é preciso ter noção das diferentes escalas entre os dois países.
“Portugal não tem a mesma capacidade industrial instalada. Para cada 140 empresas chinesas que investem em Portugal, nós, para sermos proporcionais, traríamos uma”, ilustrou.
Durante a permanência na China, a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa vai participar em várias feiras e fóruns, como a China International Fair for Trade in Services (CIFTS) e a cimeira da Iniciativa Faixa e Rota, em Hong Kong.
“Queremos mostrar que Portugal está aberto à colaboração e transmitir oportunidades concretas. Por vezes resultam contactos com empresas, outras vezes com governos locais chineses que também procuram investimento estrangeiro para os seus municípios”, indicou.
“O que os chineses procuram é viabilidade. E a nossa missão é apresentar Portugal como uma alternativa estável e aberta, num momento em que a tensão comercial e o protecionismo estão a crescer”, concluiu.
Bernardo Mendia considerou que a visita de Montenegro “é sempre muito positiva”, sublinhando que “já não havia uma visita deste nível desde 2016”.
“A presença do primeiro-ministro tem muito peso, sobretudo do lado chinês. Portugal tem essa tradição de boas relações com várias culturas e esta viagem, que inclui também Macau e o Japão, reflete isso mesmo”, afirmou.
Apesar de não constar, até ao momento, um fórum económico na agenda da visita, Mendia lembrou que o ministro da Economia e da Coesão Territorial, Manuel Castro Almeida, integra a comitiva, o que, disse, “também sinaliza algo”.
“Acredito que a visita tenha substância. Pode não ser público, mas estou confiante de que foi bem preparada pela AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) e pelo Governo”, acrescentou.














