São cada vez mais as companhias aéreas que permitem, na altura de comprar uma viagem, aliviar a ‘culpa ambiental’ dos clientes, comprometendo-se com, mediante um pagamento, compensar as emissões de gases com efeitos de estufa feitas durante o voo e desta forma ‘pagar’ o preço da pegada de carbono da viagem.
O valor angariado, na maior parte das companhias, vai para programas de reflorestação e de combate à desflorestação. No caso da Ryanair, recorda a BFMTV, apregoava-se que, por 3,49, estaria a apoiar-se o financiamento da “reflorestação da região do Algarve, afetada por incêndios florestais em 2018”.
Sabendo que o setor da aviação comercial representa até 5% das emissões totais de C02, é tentador o contributo.
Porquê as florestas? Porque funcionam como sugadouro de C02: a ideia e tentar equilibrar a balança: está-se a produzir gases com efeitos de estufa, mas plantam-se mais árvores para tentar controlar o problema.
A Green Peace e a ONU Meio Ambiente já vieram criticar a prática por “ficar construída a ideia de que basta plantar árvores para salvar o clima” e criar “uma perigosa ilusão de que uma pequena correção permite que as nossas enormes emissões parem de crescer”,
Já Augustin Fragnière, especialista em Política Climática da Universidade de Lausanne, aponta que o vocabulário usado é normalmente enganador para o consumidor, e que devia ser ‘vendido’ como “contribuição” ou “compensação” pela “neutralidade carbónica”.
Por outro lado, esta medida pode criar a ilusão, nas companhias, de que não precisam de acelerar mais os esforços. O Conselho Superior do Clima, num recente relatório, alerta para a necessidade de se garantir que o valor de compensação pago pelos viajantes não acaba por “menorizar os esforços de descarbonização” das empresas.
Com efeito, plantar uma árvore não soluciona o problema, porque o avião onde viajamos, irá sempre produzir uma grande quantidade de emissões poluentes. As florestas não resolvem o problema por si, e um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que são incapazes de absorver todas as emissões da humanidade.
Também, as árvores vão ficando ‘saturadas’ e a sua capacidade de absorção de dióxido de carbono vai reduzindo. Para além disso, há o desfasamento entre a viagem, que ocorre logo, e a plantação e crescimento da árvore.
Tudo em conjunto, acaba por significar menos segundos no temporizador da ameaça climática, e menos passos no caminho ao objetivo de limitar o aquecimento global até +1.5ºC até 2030.
Acresce o facto de, se uma floresta arder, for explorada, ou morrer, todo o dióxido de carbono que tem’ aprisionado’ dentro de si, é libertado para a atmosfera, o que acaba por deitar por terra muitos dos esforços de reflorestação feitos.
Então é melhor pagar ou não a ‘taxa verde’? Na altura de verificar o que está a ser feito pelas companhias, ou se é de facto aplicado no que os passageiros pensam, “não há autoridade, apenas organismos de certificação”, explica Fragnière. O padrão de certificação é o Verra, mas investigações jornalísticas revelaram recentemente que 90% dos projetos com o selo não tinham qualquer valor climático.
Os especialistas dão outra opção, se quer viajar de avião sem o ‘peso’ da culpa pelas emissões de carbono: Doar o valor da ‘taxa’ que seria cobrada pela companhia aérea, ou mais se assim decidir, a uma associação ambiental que conheça o trabalho e que lhe dê garantias, “de forma a descorrelacionar as emissões de C02 do ‘roubo’ da contribuição financeira.














