Parto por cesariana reduz efeitos da vacina contra o sarampo em bebés, revela estudo

Os investigadores descobriram que 12% das crianças nascidas por cesariana não tinham resposta imunológica à primeira dose da vacina contra o sarampo, em comparação com 5% das nascidas por parto vaginal.

Pedro Gonçalves
Maio 18, 2024
16:30

Uma investigação conduzida pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, em parceria com a Universidade de Fudan, na China, trouxe à luz uma descoberta alarmante: bebés nascidos por cesariana têm até 2,6 vezes mais probabilidades de a primeira dose da vacina contra o sarampo falhar quando comparados com os nascidos de parto natural.

O falhanço da vacina traduz-se na incapacidade do sistema imunitário da criança em produzir anticorpos suficientes para combater a infeção pelo sarampo, tornando-a suscetível à doença. O professor Henrik Salje, da Universidade de Cambridge, co-autor do estudo, sublinhou: “Descobrimos que a forma como nascemos, seja por cesariana ou parto vaginal, tem consequências de longo prazo na nossa imunidade às doenças à medida que crescemos.”

De acordo com os investigadores, é necessário administrar uma segunda dose da vacina contra o sarampo para garantir uma imunidade robusta contra a doença em meninas nascidas por cesariana. O sarampo é altamente contagioso, e mesmo taxas baixas de falha da vacina podem aumentar significativamente o risco de um surto.

Uma possível explicação para este fenómeno está relacionada com o desenvolvimento do microbioma intestinal do bebé, uma vasta coleção de microorganismos que habitam naturalmente o intestino. Estudos anteriores demonstraram que o parto vaginal transfere uma maior diversidade de microorganismos da mãe para o bebé, estimulando assim o sistema imunológico.

Salje alerta para o facto de muitas crianças não receberem a segunda dose da vacina contra o sarampo, o que representa um perigo tanto para elas como para a população em geral, e destacou a importância de monitorizar de perto os bebés nascidos por cesariana para garantir que recebam a segunda dose da vacina.

Os resultados deste estudo foram publicados na revista científica ‘Nature Microbiology’.

Contudo, para manter o sarampo sob controlo, é necessário que pelo menos 95% da população esteja completamente vacinada. Alguns países, como o Reino Unido, encontram-se significativamente abaixo deste limiar, apesar da disponibilidade da vacina tríplice viral contra o sarampo, a papeira e a rubéola (MMR) através de programas de imunização infantil de rotina.

O estudo baseou-se em dados de mais de 1.500 crianças em Hunan, China, com amostras de sangue recolhidas desde o nascimento até os 12 anos de idade. Os investigadores descobriram que 12% das crianças nascidas por cesariana não tinham resposta imunológica à primeira dose da vacina contra o sarampo, em comparação com 5% das nascidas por parto vaginal.

O sarampo é uma das doenças mais contagiosas e, até o momento, não tem tratamento específico. A erradicação da doença depende de uma alta cobertura vacinal, com duas doses da vacina necessárias para gerar uma resposta imunológica duradoura e proteger contra o sarampo. No entanto, em 2022, apenas 83% das crianças em todo o mundo haviam recebido a primeira dose da vacina contra o sarampo antes de completarem um ano de idade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda campanhas de revacinação contra o sarampo em todos os países da Europa devido ao aumento de casos em 2022. As baixas coberturas vacinais resultantes da pandemia deixaram muitas pessoas, especialmente crianças, suscetíveis a uma doença potencialmente fatal.

Antes da introdução da vacina contra o sarampo em 1963, importantes epidemias da doença ocorriam a cada poucos anos, causando cerca de 2,6 milhões de mortes anuais.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.