Os “sérios desafios” e obstáculos que podem ‘descarrilar’ o plano de paz de Trump para Gaza

O acordo de paz promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que visa alcançar um cessar-fogo duradouro entre Israel e o Hamas e garantir a libertação dos reféns ainda detidos na Faixa de Gaza, continua a enfrentar sérios desafios, apesar do otimismo manifestado pela administração norte-americana.

Pedro Gonçalves
Outubro 6, 2025
12:44

O acordo de paz promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que visa alcançar um cessar-fogo duradouro entre Israel e o Hamas e garantir a libertação dos reféns ainda detidos na Faixa de Gaza, continua a enfrentar sérios desafios, apesar do otimismo manifestado pela administração norte-americana.

Segundo o secretário de Estado, Marco Rubio, o entendimento representa “o desenvolvimento mais significativo em muito tempo” e “a maior aproximação até hoje a um caminho concreto para a libertação de todos os reféns”. Em declarações à ABC News, no programa This Week, Rubio reconheceu, contudo, que “ninguém disse que isto seria fácil”, sublinhando que “ainda há muito trabalho pela frente”.

Trump quer concretizar um acordo histórico
O ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de 1.200 israelitas e no sequestro de 251 pessoas, desencadeou uma ofensiva israelita que já provocou mais de 65 mil mortos palestinianos. Desde então, os esforços diplomáticos têm-se centrado na libertação dos 48 reféns que, segundo Washington, ainda permanecem em Gaza — embora se estime que apenas 20 estejam vivos.

Trump apresentou o seu plano de paz na semana passada, afirmando que o Hamas “parece pronto a aceitar” os termos. O acordo prevê a libertação dos reféns, o desarmamento e a renúncia ao poder por parte do Hamas, em troca da retirada gradual das forças israelitas de grande parte do território, da libertação de centenas de prisioneiros palestinianos e da entrada de ajuda humanitária e fundos para a reconstrução.

O presidente norte-americano advertiu que “todo o inferno cairá sobre o Hamas” caso o grupo rejeite a proposta. A ideia de deslocar parte da população de Gaza para outros países foi, entretanto, retirada do plano, num sinal de que Washington procura um compromisso mais viável a curto prazo.

Negociações técnicas em curso
Rubio revelou que as equipas de negociação norte-americanas esperam chegar ao Cairo com “90% do acordo finalizado”, restando apenas detalhes técnicos. “Estamos a finalizar a parte logística. Gostaríamos que isto tivesse sido concluído ontem. Queremos ver os reféns a regressar o mais rapidamente possível”, afirmou o secretário de Estado.

Entre os pontos ainda em disputa estão as condições de segurança para a troca de reféns. “Não se pode realizar uma troca se há combates ativos. É uma questão de segurança, tanto para os reféns como para o pessoal da Cruz Vermelha ou outras organizações envolvidas”, explicou Rubio.

O responsável norte-americano também advertiu que Israel continuará a agir contra “ameaças iminentes”, e que há “oportunidades para quem queira sabotar o processo”, incluindo elementos ligados ao Hamas, que podem criar “condições inviáveis para a troca”.

O futuro de Gaza e o papel do Hamas
Uma das maiores dúvidas prende-se com a capacidade do Hamas de cumprir a exigência de se desarmar completamente. “Enquanto houver ameaças a partir de Gaza — sejam do Hamas ou de um grupo sucessor —, enquanto existirem pessoas que construam túneis, possuam foguetes e planeiem raptar ou matar israelitas, não haverá paz”, alertou Rubio.

O secretário de Estado defendeu que Gaza deverá ser administrada por “tecnocratas e líderes palestinianos que não representem uma ameaça para Israel”, reconhecendo, contudo, que essa será “a parte mais difícil de todo o processo”.

O antigo comandante supremo da NATO, almirante James Stavridis, afirmou também à ABC News que vê a situação com “otimismo cauteloso”. No entanto, comparou as negociações à famosa cena dos Peanuts — “Lucy com a bola de futebol” —, em que a promessa de sucesso é retirada no último momento.

Stavridis salientou três fatores essenciais para o êxito do acordo: “lei, armas e dinheiro”, numa alusão à canção Lawyers, Guns, and Money, de Warren Zevon. “É preciso definir quem vai governar Gaza, retirar as armas das mãos do Hamas e determinar quem vai financiar tudo isto”, explicou.

O almirante sublinhou ainda que o sistema de túneis subterrâneos em Gaza representa “um ponto crítico ignorado nas conversações”, defendendo que a sua neutralização é indispensável para eliminar o “apetite pela guerra”. Também sugeriu que uma força de manutenção da paz árabe seria a melhor opção para garantir a estabilidade após o acordo — uma proposta que tem dividido os envolvidos, com alguns países, como a China e a Turquia, a manifestarem interesse em desempenhar esse papel.

A etapa seguinte
De acordo com o New York Post, uma equipa de enviados norte-americanos, incluindo o emissário especial Steve Witkoff e o conselheiro presidencial Jared Kushner, viajará hoje para o Cairo para tentar concluir os detalhes técnicos e operacionais do acordo. A reunião deverá centrar-se na logística da libertação dos reféns e nas garantias de segurança que permitam a execução do plano ainda este mês.

Apesar das incertezas, a administração Trump mantém a esperança de alcançar aquele que o presidente considera poder ser “um dos maiores marcos diplomáticos da história moderna do Médio Oriente”.

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