Volatilidade Externa e Tarifas dos EUA: Desafios para Empresas Familiares

Por Bruno Moleiro, Estratégia e Desenvolvimento de Negócios | Gestão e Inovação, Doutorando em Gestão | ISEG – Universidade de Lisboa

As recentes alterações às tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos têm representado novos desafios para as empresas familiares portuguesas com atividade internacional. Segundo dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), as exportações portuguesas de bens para os EUA atingiram, em 2024, um valor total de cerca de 5 318,3 milhões de euros. Este número reforça a importância dos Estados Unidos como destino das exportações nacionais, posicionando-o como o 4º maior mercado de Portugal.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Eurostat, as exportações portuguesas para os Estados Unidos incluem medicamentos, óleos leves e preparações de petróleo, componentes para a indústria automóvel, maquinaria e equipamentos, bem como produtos dos setores da madeira, cortiça, calçado, têxtil e vestuário. Segundo os perfis sectoriais divulgados pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP, 2024), estes setores destacam-se pela forte presença de empresas familiares. A imposição de novas tarifas afeta estes ramos económicos de forma diferenciada, com os setores automóvel, metalurgia, metalomecânica, madeira, cortiça, têxtil, vestuário e calçado a revelarem maior exposição às alterações no regime tarifário, devido ao seu portfólio exportador e à relevância das empresas familiares na sua estrutura produtiva.

Este contexto reforça a necessidade de uma análise pragmática do impacto destas medidas e de uma resposta estratégica para salvaguardar a competitividade das organizações nacionais.

Face a estes desafios, a resposta das empresas familiares pode ser estruturada em quatro eixos principais:

1.Diversificação de Mercados

Reduzir a dependência do mercado norte-americano, explorando oportunidades noutros destinos, como a União Europeia, América Latina e África, contribui para uma menor exposição a riscos exógenos.

2.Inovação e Parcerias Estratégicas

Desenvolver produtos com maior valor acrescentado, menos vulneráveis a restrições externas, e estabelecer parcerias com centros de investigação, universidades e startups fortalece a resiliência e a flexibilidade organizacional.

3.Revisão da Cadeia de Abastecimento

Ajustar cadeias de fornecimento, identificando alternativas e negociando condições, permite mitigar custos acrescidos e salvaguardar a continuidade operacional.

4.Acompanhamento das Políticas Comerciais

Monitorizar alterações legislativas e aduaneiras facilita a antecipação de movimentos e o ajustamento das operações e estratégias comerciais em tempo útil.

A volatilidade associada às tarifas dos EUA exige das empresas familiares portuguesas uma abordagem contínua à gestão do risco e uma leitura atenta dos fatores externos que condicionam as exportações.

É recomendável que as direções das empresas familiares coloquem a gestão do risco no centro do processo de decisão e incentivem a monitorização regular dos mercados externos. A adoção de modelos colaborativos e a valorização do conhecimento interno e externo constituem mecanismos que potenciam respostas mais rápidas às mudanças e facilitam a adaptação de processos. A capacidade de ajustar operações, reavaliar mercados e reformular estratégias, pode determinar a continuidade e o posicionamento destas empresas num ambiente de incerteza.

O contexto atual exige decisões fundamentadas e uma liderança orientada para a adaptação.