Valorizar o capital natural nas empresas: da sustentabilidade ao impacto financeiro
Por Célia Revés, Manager na unidade de Energia da Minsait em Portugal (Indra Group)
A valorização do capital natural nas empresas tem-se tornado num elemento central para a sustentabilidade e para a resiliência de uma organização. Quando falamos de capital natural referimo-nos aos recursos e sistemas fornecidos pela natureza tais como o ar puro, a água, um solo fértil, a biodiversidade ou um clima estável.
As empresas têm vindo a reconhecer cada vez mais que o capital natural não é apenas um recurso externo, mas um ativo estratégico, pois existe uma crescente necessidade de ter modelos de negócio sustentáveis, que integrem práticas que minimizam a extração de recursos, promovendo a eficiência e regenerando os ecossistemas.
Em Portugal, a adoção deste conceito tem ganhado relevância, especialmente nos setores agrícola e florestal. De acordo com o estudo “Natural Capital – Roadmap for Sustainable Investment in Agriculture & Forestry”, desenvolvido pela JLL e pela Consulai, o capital disponível para investir em capital natural na Europa cresceu 200% em 2023, atingindo 5,3 mil milhões de euros. Este aumento reflete uma tendência crescente de valorização dos ativos naturais como oportunidades de investimento sustentável.
Em Portugal, embora não existam dados públicos específicos sobre o montante exato investido por empresas na adoção de capital natural, há iniciativas significativas que demonstram este compromisso. Além disso, o Banco Europeu de Investimento, através do Mecanismo Financeiro do Capital Natural (NCFF), disponibiliza instrumentos de crédito para financiar projetos que promovam a conservação e valorização do capital natural. Este mecanismo tem apoiado diversas iniciativas em Portugal, embora os valores específicos dos investimentos não sejam detalhados publicamente.
A verdade é que o investimento na conservação do capital natural traz também vantagens competitivas como a redução de custos permitindo também o acesso a novos mercados e, sem dúvida, fortalecendo a reputação das empresas no mercado onde atuam. Consumidores e investidores estão cada vez mais atentos às práticas ambientais, preferindo apostar em empresas com abordagens mais responsáveis.
Hoje em dia já existem métodos de avaliação e ferramentas (plataformas de software) que ajudam a medir, gerir e reportar o impacto e a dependência do capital natural. Para os vários stakeholders, é uma ajuda para a tomada de decisões mais informadas e alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Além dos benefícios ambientais estas plataformas também oferecem vantagens económicas significativas. Com módulos económicos inseridos nas próprias ferramentas, realizam análises de custo-benefício das medidas de mitigação, funcionando como um simulador financeiro. Além de ajudar as empresas a justificarem investimentos em sustentabilidade, também melhoram o seu acesso a financiamento.
Uma das maiores vantagens na avaliação do capital natural é a de conseguir obter relatórios ambientais detalhados. Falamos de documentos que aumentam a transparência, fornecendo ainda informações valiosas para a tomada de decisões, ajudando à compreensão dos impactos qualitativos, quantitativos e financeiros das atividades das empresas, que podem adotar assim medidas mais eficazes para mitigar danos ambientais e promover práticas mais sustentáveis.
Olhar para o capital natural como um pilar central das estratégias financeiras, sociais e ambientais é uma oportunidade de criar valor sustentável, proteger os recursos do planeta e construir um futuro mais equilibrado.