
Valorizar a tecnologia do baú
Por Luísa Vasconcelos e Sousa, Country Manager da Swappie em Portugal
São tempos áureos para a economia circular, especialmente para o mercado da tecnologia recondicionada que, de acordo com a IDC, só em 2022 cresceu 11,5% a nível mundial. Há cada vez mais pessoas a optar por aparelhos recondicionados, que funcionam tão bem como outros novos e com preços mais económicos para a carteira dos utilizadores: por exemplo, em certas opções e marcas, falamos de mais de 40% de poupança. No entanto, a origem e o processo de tratamento destas tecnologias continuam a suscitar dúvidas nos consumidores que, na hora de comprarem um novo telemóvel, continuam a manter o antigo guardado em casa – mesmo que esteja estragado, e perdendo aqui uma oportunidade de pouparem ainda mais com a retoma ou venda desse aparelho.
Diz-nos um estudo recente da Kantar que metade dos portugueses continua a manter na gaveta aparelhos que já não usa. Ao mesmo tempo, o estudo revela que aumentou de 76% (em 2021) para 80% (em 2022) o número de consumidores que não sabe ou não considerou a opção de vender a sua tecnologia para reciclagem e aproveitamento de peças, . Embora grande parte dos inquiridos já conheça a diferença entre telemóveis usados e recondicionados, há uma boa parte que ainda não compreende como a prática de reciclagem e entrega de equipamentos é fulcral para poupar e para continuar a alimentar de forma positiva a economia circular, e o benefício que esta traz à sociedade.
Num setor onde se recolhem mais de 10kg de lixo eletrónico por pessoa por ano, de acordo com dados do Eurostat, é essencial pensar como podem as marcas e os cidadãos rever um cenário marcado pelo consumo desenfreado e desperdício. É evidente como a falta de informação e de esclarecimentos – literacia, como se denomina comumente – é um dos grandes entraves à mudança de hábitos: sem ideia do que fazer aos equipamentos usados ou pensando que podem ser lixo comum, os consumidores estão não só a reduzir a vida útil da tecnologia, que poderia ser melhor aproveitada, como também a colocar o meio ambiente em perigo pela poluição causada.
A própria Comissão Europeia está a discutir a Diretiva WEEE (Waste from Electrical and Electronic Equipment) com vista a mudar este panorama, definindo metas para recolha, recuperação e reciclagem de equipamentos, apertando o controlo sobre exportação ilegal de lixo eletrónico e agilizando a burocracia para as entidades envolvidas.
Do ponto de vista de quem compra, sabemos que, além do fator poupança, a sustentabilidade já é a principal razão para fazer compras em segunda- mão,
como mostra também o estudo da Kantar. A preocupação com o ambiente está na ordem do dia, mas é preciso que os players do setor diversifiquem as opções disponíveis para os cidadãos fazerem, cada vez mais, parte da valorização de tecnologia em fim de vida.
Por exemplo, apostar em soluções que facilitem a venda de aparelhos de volta às marcas, em qualquer condição e sem grandes barreiras, são atrativos para os utilizadores participarem neste reforço do da circularidade e da poupança. Com esta opção, já posta em prática por algumas empresas tanto para consumidores individuais como para grandes corporações, facilmente conseguem entregar o que antes acumulavam, recebendo um incentivo financeiro para o fazerem, contribuindo para aproveitar componentes eletrónicos para recondicionar tecnologia, posta novamente no mercado – e assim se reforça a economia circular, verdadeiramente.
É essencial, por fim, que os fabricantes tecnológicos incluam na sua estratégia desde já, a curto e médio prazo, ações para impactar positivamente o ambiente. A disponibilização de tecnologia deve, de forma crescente, responsabilizar estas entidades enquanto atores de sensibilização e informação aos consumidores sobre boas práticas para a sua tecnologia em fim de vida. É de todos a responsabilidade pelo prolongamento da vida útil dos aparelhos e pela educação hábitos de consumo mais conscientes, em nome da sustentabilidade do planeta.