Uma outra via para a eficiência energética
Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros
Como temos ouvido e lido frequentemente, a transição energética assenta em grande parte na eletrificação da economia, seja a nível dos transportes seja a nível dos processos produtivos e mesmo por via da digitalização/automatização. Ora bem, tudo isso tem por base a utilização cada vez mais massificada de motores elétricos, desde os mais pequenos aos maiores.
Temos também sido sensibilizados para campanhas de eficiência energética, nomeadamente a nível do edificado – habitacional, industrial e de serviços – relacionadas com utilização de iluminação de baixo consumo, melhoria do isolamento térmico, autoprodução e consumo de AQS e eletricidade e outras. Acresce que a eficiência energética é uma das mais potentes estratégias para mitigar as alterações climáticas.
Porém, uma outra via para a eficiência energética pode assentar na utilização de motores elétricos mais eficientes, que como vimos, são um dos pilares da eletrificação da economia, contribuindo para a transição energética baseada em energias renováveis. Embora a poupança individual dos motores possa não ser elevada, o potencial é imenso, devido ao número total de motores e às prolongadas horas de utilização.
De acordo com dados de um projeto europeu (EU-MORE, European Motor Renovation) que pretende acelerar a substituição dos motores elétricos velhos e ineficientes, no setor da indústria e serviços, os motores elétricos consomem mais de 50% da eletricidade a nível mundial (dados de 2015 referem 53%, 10 700 TWh, 5,5 Gton CO2eq.). E normalmente ficam em serviço muito mais tempo (ex. 30 – 40 anos) do que o geralmente assumido para equipamentos congéneres. Refira-se ainda que um trabalho recente determinou que 56% dos motores elétricos em utilização tinham ultrapassado o seu tempo de vida útil. Ora motores antigos significa, geralmente, motores energeticamente ineficientes. Na UE-27, os motores elétricos representaram aproximadamente 70% do consumo elétrico a nível industrial e cerca de 40% no setor da indústria. Prevê-se que a aceleração da substituição destes motores a nível da União Europeia pode promover poupanças de 25 TWh e se todos os sistemas forem renovados e não apenas os motores o potencial de poupança pode atingir 73–133 TWh, o que corresponde ao consumo dos Países Baixos. Para além disso a otimização dos motores também acarreta outros benefícios não energéticos, como a diminuição da manutenção e ambientais.
Para corroborar a importância dos motores elétricos, cite-se agora o relatório 2021 World Energy Outlook da Agência Internacional de Energia, que identificou 40 referências sem as quais o consumo de energia final seria 30% superior em 2030. Uma dessas referências era a de que todos os motores deveriam ser os melhores da classe em 2035, o que será inalcançável sem fortes medidas a curto prazo que direcionem o mercado nesse sentido.
Será assim necessário desenvolver um pacote legislativo e de apoios para promover a aceleração da substituição de motores elétricos por outros de maior eficiência, eventualmente utilizando menos materiais críticos ou substituindo-os por outros mais baratos, sustentáveis e disponíveis, acrescendo ainda o fator da circularidade assente na utilização de materiais recicláveis e numa estrutura dos motores que facilite a sua reciclagem em novos equipamentos (e não o recondicionamento). O investimento pode ser considerável, pelo que medidas políticas e incentivos poderão ser necessários para motivar esta mudança, embora o retorno do investimento se estime que seja bom. Será ainda necessário desenvolver um modelo que analise o impacto das políticas para os motores elétricos, e dados que alimentem esse modelo, analisando vários cenários de implementação e de implicações a nível das emissões.
A preocupação crescente de decisores políticos, produtores e consumidores finais com os consumos energéticos e as emissões relacionadas tem despertado a atenção para aspetos como estes. Por isso e envolvimento de todas as partes interessadas deve ser considerado para se conseguirem as melhores soluções em termos energéticos, económicos e de eficiência global.