Um sismo no mundo

Por Pedro Alvito, Professor de Política de Empresa na AESE Business School

Nunca os jogos de poder foram tão visíveis e descarados como nos últimos tempos. A mistura entre política e economia, que sempre tiveram uma ligação profunda, está atualmente na onda do poder. Bem para uns e mal para outros como todas as coisas na vida dos homens, mas sobretudo diferente. Nuns casos temos que a política pretende condicionar a atividade económica por ideologias e por convicção. Noutros a economia influencia a política pela conjuntura e pelos interesses instalados. É uma lei de autorregulação mútua, em que os participantes dos dois lados são conhecidos e identificados. Sempre foi assim, mas…

É assim que temos vivido desde a revolução industrial até há bem pouco tempo. De forma certa ou errada acreditava cada lado da política que aquilo que apregoava era uma solução que geraria melhoria social. A guerra de classes comunista ou o mercado totalmente liberal acreditavam e acreditam que o que defendem contribui para uma sociedade melhor, mais justa e mais próspera.

Mas os últimos tempos parecem querer subverter este paradigma. Os partidos passaram a ser apenas a pessoa que o dirige com a sua agenda, os seus interesses e uma ideologia desconhecida, porque são as suas ideias que contam e que na sua maioria não conhecemos. O estar à frente de um partido na América ou em Portugal não quer dizer que se siga a ideologia desse partido, porque cada um pensa e age exclusivamente por si, coberto por uma capa partidária que pouco ou nada tem que ver com aquilo que o próprio defende. Tudo se concentra em interesses pessoais e muitas vezes imediatos, sendo a economia e a política já não um complexo jogo de xadrez, mas simplesmente um jogo de poker em que o bluff e até as cartas escondidas na manga são prática corrente.

Isto naturalmente subverte tudo o que seja previsões para o futuro e estratégias de longo prazo. Quem pode garantir o que quer que seja a dois ou três anos? Provavelmente nem a seis meses conseguimos prever… E com isto atrasam-se e adiam-se investimentos, gere-se o dia a dia e o que mais conta é o salve-se quem puder. O que irá acontecer com a política e a economia americana e europeia? O que dizer da guerra em várias partes do mundo e na Europa em particular? Que irá acontecer com os imigrantes em todo o mundo? E haverá revolta social? E aquilo que irá acontecer e que nós nem somos capazes de prever, mas que está já nas intenções de alguns iluminados homens do poder? E alguém acredita que perante tanta ação controversa não haverá uma reação? O abismo está mesmo à vista de todos, mas em vez do célebre passo em frente, agora parece que corremos para ele.

A terra tremeu em Lisboa, pouco, mas o suficiente para causar imenso alarido largamente ampliado pelos meios de comunicação. Falou-se de prevenção e de reação (curiosamente defendendo-se opiniões contrárias). O nosso mundo treme todos os dias com todos estes sismos na economia e na política, mas será que ao contrário do que alguns mais catastróficos anunciaram para Lisboa não deveremos precaver-nos (não sei infelizmente como…) para o subsequente tsunami que está para vir? É que não nos podemos esquecer que independentemente de toda a estupidez humana, as pessoas são aquilo que mais conta neste mundo!