Um segredo para produtos de sucesso: Design centrado nas pessoas

Por Ana Carvalho, Project Manager da Tangível

Com o crescimento da inteligência artificial, a inovação domina as conversas. Vemos por todo o lado chatbots para reduzir o número de pessoas nas lojas, novas APPs com funcionalidades disruptivas e as soluções arrojadas vão aumentando. A procura por inovar é constante, mas, na verdade, nem sempre é preciso reinventar a roda – muitas vezes, o que falta é pensar no essencial e redescobrir o valor da simplicidade.

Back to the basics

Remover a complexidade desnecessária e priorizar o que acrescenta valor ao cliente. O segredo não está em seguir tendências sem responder às reais necessidades das pessoas. O segredo está em simplificar-lhes a vida.

Quantas vezes já abriram uma APP inovadora e diferente, mas ela bloqueia ou demora a entrar? De que serve uma APP revolucionária se não for acessível e fácil de usar?

Inovar envolve criar algo que tenha um impacto real e seja amplamente adotado, sem que isso implique, necessariamente, descobrir algo totalmente novo. Para alcançar esse objetivo é essencial que as pessoas sintam que aquilo que lhes oferecemos é útil e funcional.

Antes de nos preocuparmos em criar algo novo no nosso produto ou serviço, devemos preocupar-nos primeiro em construir bases sólidas que o sustentem. Não começamos uma casa pelo telhado, correto?

Vamos a um exemplo.

Uma imobiliária disponibiliza, no seu website, visitas virtuais e interativas aos seus imóveis, mas quando, no mesmo website, queremos filtrar por casas apenas do concelho de Coimbra, não conseguimos.

Falhámos no básico, mas investimos em inovação.

Certamente, se fossemos falar com os clientes íamos descobrir esta dor e, com um investimento mais reduzido, íamos conseguir mais satisfação dos clientes.

Tenho um colega aqui, na Tangível, que dá ainda um exemplo mais óbvio:

Quando chegamos a um hotel, esperamos ter água quente. É básico e ficamos mesmo chateados se não tiver.

Por outro lado, quando chegamos a um hotel, não esperamos ter um pastel de nata à nossa espera no quarto.

Agora pergunto: fará sentido dar aos clientes um pastel de nata, sem haver água quente?

Menos é mais

Tendemos a pensar no pastel de nata, em vez da água quente nos nossos produtos e serviços. Seja porque a concorrência é cada vez maior ou porque o mundo atual exige mudanças rápidas. Queremos ao máximo distinguir-nos da concorrência e sem dúvida que é preciso.

Distinguir da concorrência não significa fazer mais, pode também significar fazer menos (mas bem feito).

Vamos a outro exemplo.

Pensemos numa aplicação. Existe a crença de que o sucesso dos produtos digitais é medido pelo número de features, por isso, o objetivo constante é implementar novas funcionalidades. Será que estamos no caminho certo?

Hoje em dia, até os MVP deixam de ser MVP. O próprio nome indica que é um Minimum Viable Product. Devia ser uma versão simples e funcional, que responde às principais tarefas dos utilizadores e que é lançada para o mercado de forma a obter feedback e, com menos investimento, validar se funciona. No entanto, vemos MVP com dark e light mode. Será essencial?

Lançar features iguais às do nosso concorrente não torna o nosso produto melhor. Lançar mais features que o nosso concorrente, muitas vezes também não.

O que torna o nosso produto valioso e distintivo é o valor que ele cria para os utilizadores. Podemos lançar menos funcionalidades, mas lançar aquelas que realmente fazem falta e acrescentam valor no dia-a-dia das pessoas.

Para isso, é necessário priorizar e descobrir o que realmente faz falta aos nossos clientes; e isso só é possível se os conhecermos bem.

Conhecer o cliente

Não é perguntar-lhe o que ele gosta ou o que acha do nosso produto. É observá-lo a fazer tarefas e fazer-lhe as perguntas certas. Criar um produto útil implica resolver problemas na vida das pessoas – que muitas vezes não são aqueles que imaginamos. É preciso descobrir a causa real e ir à raiz do problema.

Talvez as soluções de transformação digital ou inovação não estejam em chatbots, mas sim em produtos mais simples de usar. Produtos que não causam dúvidas, nem medos e que, por isso, evitam uma deslocação a uma loja.

Descobrir e resolver o verdadeiro problema, criar produtos que simplificam, resolvem e fazem a diferença na vida das pessoas são, provavelmente, os maiores segredos de um produto de sucesso.

Porque, no fim, não se trata apenas de criar um produto; trata-se também de tornar o mundo um lugar melhor.