Tarifas comerciais e disputas internacionais

Por Inês Machado, CMO da Empor Spirits

As tensões comerciais entre os Estados Unidos da América e a União Europeia, traduzidas em tarifas adicionais sobre produtos estratégicos, são muitas vezes vistas como uma questão diplomática e distante da realidade do consumidor. No entanto, para as empresas portuguesas que operam na intermediação, distribuição e exportação de bebidas alcoólicas, estas tarifas representam um campo minado com enorme potencial de crise económica e operacional.

O mercado das bebidas espirituosas e licorosas tem sido, sistematicamente, apanhado no fogo cruzado destas disputas comerciais. Nos últimos anos, os EUA impuseram tarifas sobre o aço e o alumínio europeus, ao que a União Europeia respondeu com medidas retaliatórias, incluindo tarifas adicionais sobre bebidas espirituosas americanas. O impacto foi imediato: aumento do custo de importação, quebra nas margens e um inevitável desequilíbrio nos portfólios das distribuidoras.

Estas barreiras dificultam a entrada de bebidas estrangeiras nos mercados locais, com especial impacto nas importações. As distribuidoras portuguesas, que trabalham com marcas internacionais para completar os seus catálogos, enfrentam custos acrescidos e uma redução de competitividade. A instabilidade que isto gera impede um planeamento sustentável e encarece produtos que antes eram acessíveis, que acaba por afetar toda a cadeia de valor — do importador ao consumidor final.

Por outro lado, a retaliação americana, caso atinja diretamente as bebidas alcoólicas europeias, poderá colocar em risco as exportações de marcas portuguesas que hoje já se afirmaram lá fora. Portugal tem hoje, para além dos vinhos, gin, rum artesanal, licores tradicionais reinventados e aguardentes com identidade própria — produtos com potencial de conquistar mercados internacionais, incluindo os Estados Unidos. No entanto, estas tarifas elevadas poderão tornar impeditiva a entrada, ou até bloqueá-la por completo. As pequenas e médias empresas portuguesas não têm estrutura para suportar flutuações abruptas de tarifas nem tempo para andar um labirinto alfandegário que muda ao sabor das marés políticas. Ficam para trás, não por falta de qualidade ou visão estratégica, mas por ausência de previsibilidade e equidade no acesso ao mercado global.

O setor das bebidas alcoólicas exige estrutura tarifária e diplomática estável para crescer de forma sustentável. São precisas políticas comerciais que protejam o equilíbrio do mercado sem penalizar os operadores independentes. Portugal tem tradição, inovação e talento neste setor. O que falta é uma política comercial coerente que não torne o copo meio vazio antes mesmo de ser servido.