Resiliência e coragem precisam-se

Por Ricardo Ferreira, CEO da Acede

A instabilidade política atual em Portugal, caracterizada pela dissolução do governo e eleições antecipadas, impõe desafios substanciais às empresas. A volatilidade do contexto político gera um ambiente de incerteza, com possíveis repercussões nas decisões estratégicas e nos investimentos. Perante esta conjuntura, os responsáveis das empresas deparam-se com uma questão fundamental: aguardar por um quadro político mais estável ou avançar com as decisões necessárias para a sustentabilidade e crescimento dos seus negócios?

A experiência demonstra que a economia não se ajusta ao calendário político. Enquanto os governos caem, os orçamentos são suspensos e as negociações partidárias decorrem, os mercados continuam a evoluir, a concorrência mantém-se ativa e as oportunidades de crescimento não aguardam por um cenário ideal. Neste contexto, é essencial distinguir entre prudência e inação. As empresas que protelam decisões estratégicas arriscam perder vantagens competitivas, comprometer investimentos planeados e enfraquecer a sua posição no mercado.

A resposta a este desafio passa pela adoção de uma estratégia que privilegie a adaptação e a resiliência. É imperativo que os decisores empresariais reduzam a dependência do poder político, garantindo que a sua capacidade de ação não esteja excessivamente condicionada por mudanças governativas. O planeamento estratégico deve contemplar diferentes cenários, garantindo que a empresa se mantém preparada para operar de forma eficiente independentemente do desfecho político. É pertinente notar que grandes empresas portuguesas já adotam esta abordagem, ajustando investimentos e reforçando mecanismos de mitigação de risco.

Note-se, estes episódios não nos devem surpreender, durante a crise política em Itália no início dos anos 2000, marcada por governos frágeis e mudanças frequentes na liderança, várias multinacionais adotaram uma postura de resiliência e crescimento. O setor do luxo, representado por marcas como a Ferrari e a Prada, reforçou a sua presença internacional em vez de aguardar por um ambiente político mais previsível. Ao apostar na inovação e na diversificação de mercados, estas empresas garantiram estabilidade financeira e liderança global, enquanto setores mais dependentes de políticas públicas, como a construção civil, enfrentaram dificuldades.

Nos anos 70, durante a crise do petróleo e a instabilidade política que assolou vários países europeus, a indústria automóvel sueca enfrentou desafios significativos. Enquanto muitas empresas reduziram investimentos devido à recessão, a Volvo apostou em inovação e segurança, lançando modelos que se destacaram pela fiabilidade e eficiência energética. Esta estratégia consolidou a marca como referência mundial, permitindo-lhe crescer mesmo num período de grande incerteza económica e política. Empresas concorrentes que optaram por adiar decisões estratégicas enfrentaram declínios acentuados e perderam quota de mercado.

Estes exemplos demonstram que, em períodos de incerteza, a capacidade de adaptação e de decisão estratégica pode determinar o sucesso a longo prazo.

Adicionalmente, num ambiente de incerteza, a celeridade na execução assume um papel determinante. A capacidade de tomar decisões informadas e de atuar com prontidão pode ser um fator diferenciador, permitindo às empresas posicionarem-se estrategicamente em setores-chave e manterem a sua competitividade. O reforço das relações institucionais e empresariais emerge como uma prioridade, assegurando uma rede de apoio e uma maior influência na definição de políticas públicas relevantes para o setor privado.

O calendário político português indica que um governo plenamente operacional poderá demorar meses a consolidar-se, deixando um período prolongado de indefinição. Neste contexto, a opção de esperar pode traduzir-se numa perda de oportunidades e numa exposição acrescida ao risco. A história demonstra que os ciclos políticos são voláteis, mas as empresas que prosperam são aquelas que mantêm uma visão estratégica, agem com prudência e executam as suas decisões com determinação. A volatilidade é inerente ao ambiente empresarial e, perante a imprevisibilidade, a resposta mais prudente é avançar com planeamento, disciplina e visão de longo prazo.