Reabilitar para investir: o futuro do imobiliário passa pela renovação?
Por Catarina Crespo, Diretora de Marketing MELOM e Querido Mudei a Casa Obras
Durante anos, a reabilitação urbana foi vista como uma solução alternativa — muitas vezes associada a projetos complexos, custos imprevisíveis ou desafios técnicos difíceis de ultrapassar. Hoje, esse paradigma mudou. Num contexto de escassez de solo disponível, subida dos preços da construção nova e maior exigência em matéria de sustentabilidade, reabilitar tornou-se não apenas uma escolha lógica, mas uma aposta estratégica para quem quer investir no imobiliário com visão de futuro.
Os centros urbanos das principais cidades portuguesas continuam a concentrar a procura, tanto para habitação como para arrendamento turístico e comercial. No entanto, os terrenos disponíveis para novas construções são cada vez mais escassos — e, quando existem, implicam custos e prazos difíceis de acomodar num mercado que exige rapidez, diferenciação e retorno. Reabilitar um edifício devoluto, subutilizado ou degradado em zonas centrais permite responder a essa procura com ativos valorizados, localizações premium e uma envolvente já consolidada.
A verdade é que a reabilitação deixou de ser apenas uma causa social ou um imperativo ambiental. Tornou-se, de forma clara, uma oportunidade de investimento sólida e com retorno comprovado. Em muitas zonas históricas, reabilitar representa uma valorização patrimonial superior à média do mercado. O apelo estético, o valor cultural e a localização central fazem destes ativos oportunidades únicas. E, para investidores atentos, é também uma forma de diversificar o portefólio com imóveis de perfil mais resiliente a choques de mercado.
Além disso, há um fator cada vez mais determinante: o tempo. Em zonas urbanas densas, reabilitar permite, muitas vezes, contornar os longos processos de licenciamento exigidos para construção nova. Mesmo com os desafios burocráticos que persistem, os projetos de reabilitação têm vindo a beneficiar de regimes de incentivo, isenções fiscais e financiamento comunitário que tornam o investimento mais competitivo. A recente aposta do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e os programas municipais para revitalização urbana são bons exemplos desse novo impulso.
Mas para que esta tendência se afirme de forma sustentável, é essencial que o setor mantenha padrões elevados de execução. Uma reabilitação bem feita exige conhecimento técnico, sensibilidade arquitetónica, cumprimento rigoroso das normas e, sobretudo, um foco na criação de valor — não apenas financeiro, mas também social e urbano. O investidor que reabilita hoje não está apenas a adquirir um imóvel: está a regenerar parte de uma cidade, a contribuir para o equilíbrio do parque habitacional e a responder à crescente procura por espaços com identidade, conforto e centralidade.
O futuro do imobiliário passa, inevitavelmente, pela renovação do que já existe. E Portugal, com o seu vasto património edificado, tem aqui uma vantagem competitiva clara. Apostar na reabilitação é, por isso, investir de forma inteligente: com menos impacto ambiental, maior proximidade à procura e mais potencial de valorização. Reabilitar é, hoje, a forma mais eficaz de construir valor — para o investidor, para o mercado e para as cidades.