Quem Cuida de Quem Cuida? O Bem-Estar das Lideranças
Por Susana Santos, People Manager da Critical Software
Todos reconhecemos o impacto que a liderança tem no sucesso de uma organização. Os líderes são mensageiros da cultura e dos valores, e condutores da missão e dos objetivos da empresa. Para isso, devem cumprir boas práticas para garantir o desempenho, a motivação e o bem-estar das suas equipas.
As lideranças intermédias, em particular, estão muito próximas das pessoas que constituem a maioria da população organizacional. Isso dá-lhes um potencial imenso para impulsionar a implementação da visão da empresa — e é precisamente isso que esperamos delas.
Quando se definem metas de vendas, objetivos de desempenho ou se comunicam mudanças, espera-se que sejam os líderes a impulsionar a concretização dessas metas – seja através das suas próprias ações ou das pessoas que lideram. São eles que inspiram e, consequentemente, influenciam o comportamento e o compromisso das equipas.
Por outro lado, são também estes líderes que carregam grandes expectativas por parte das suas equipas: que motivem, que reconheçam o bom trabalho, que recompensem de forma justa ou que atribuam projetos desafiantes. A forma como lideram tem um impacto direto na experiência diária de quem trabalha na organização.
Com um ombro a carregar as metas da empresa e o outro a suportar as necessidades das suas pessoas, impõe-se uma questão: quem cuida dos líderes?
Participei recentemente numa formação em primeiros socorros psicológicos dirigida a pessoas com papéis de liderança. A psicóloga que orientava a sessão começou por perguntar por que motivo nos tínhamos inscrito e o que esperávamos aprender. As respostas foram previsíveis: todos queriam melhorar a forma como apoiavam as suas equipas, sobretudo em desafios do foro psicológico. Nenhuma pessoa mencionou a sua própria saúde mental.
Costuma dizer-se que, antes de cuidarmos dos outros, devemos cuidar de nós próprios. Mas com que frequência ouvimos esse conselho aplicada à liderança?
Ao assumir o papel de líder, ganhamos um novo conjunto de responsabilidades — desde o cumprimento dos objetivos organizacionais até à gestão do desenvolvimento individual das nossas pessoas. O resultado é um nível de pressão constante e, muitas vezes, elevado.
Aprendemos muito pelo exemplo. Pensemos num líder que afirma não esperar horas extra, mas permanece sistematicamente a trabalhar até tarde. Ainda que não o diga diretamente, comunica — mesmo que sem intenção — que esse é o comportamento esperado. O mesmo se aplica ao autocuidado. Como podemos inspirar equipas a priorizar a saúde mental, a mostrar compaixão e a adotar boas práticas se nós próprios não o fazemos?
Fica evidente: cuidar do bem-estar das lideranças é uma necessidade para o sucesso organizacional. A cultura de uma organização não se define num documento, nem se transmite numa frase. Ela constrói-se no quotidiano, em cada interação, na forma como lideramos e somos liderados. Se queremos ambientes de trabalho mais saudáveis, temos de começar por cada um de nós. E isso inclui, sempre, cuidar de quem lidera.