Os riscos de incumprimento do crédito à habitação vão aumentar?

Por Hélder Oliveira, Intermediário de Crédito MaxFinance

Os riscos de incumprimento no crédito habitação são uma realidade neste momento, visto que a economia mundial sofre de alterações significativas de diferentes origens e tipologias. Do meu ponto de vista, as imparidades bancárias irão aumentar significativamente nos próximos 2 a 3 anos. As imparidades são um dos indicadores mais importantes na política de crédito, pelo que se refletem nos empréstimos bancários seja no crédito habitação, seja no crédito ás empresas.

Perspetivamos que, como os tempos que se avizinham não serão fáceis, teremos muitas famílias com dificuldade em satisfazer o crédito habitação nas condições que estão neste momento.

É necessário alertar as pessoas para consultarem especialistas que as possam ajudar na renegociação do seu crédito ou, eventualmente na sua transferência, porque o que está a acontecer é que as pessoas se deslocam ao seu banco e as respostas que obtêm têm sido inexistentes ou muito demoradas, o que faz com que percam a oportunidade de tomar decisões e de assegurar taxas a preços competitivos, perdendo assim o impacto da poupança na sua vida quotidiana.

As taxas vão continuar a subir e, os mais otimistas, anunciam 4% como limite até setembro de 2023, mas na minha perspetiva e sendo mais realista, existem várias mudanças a acontecer.

Para as pessoas que possam andar mais distraídas aproveito para relembrar três a quatro ponto fundamentais para o negócio bancário.

Mas, primeiro, quero provocar o leitor e dizer que no meu entender as taxas poderão chegar a 6% e enuncio os aspetos que me levam a dizer isto…

Primeiro, a história repete-se e, os recordes são para ser batidos. Num passado, não muito longínquo, tivemos taxas a 5.6 ou 5.7% e não tínhamos a instabilidade económica que temos nos dias de hoje.

Segundo, a guerra na Ucrânia, não se vê fim à vista! O que, quer queiramos quer não, afeta a Europa no seu posicionamento geopolítico mundial e, para além disso, os conflitos no Indo-Pacífico entre a China e os EUA.

Terceiro, a inflação, que na zona euro não dá indícios de abrandar, bem pelo contrário, a verificar o consumo continua em alta e embora no nosso pais se reflita uma pequena baixa… Mas a verdade é que está longe dos 2% que o BCE definiu como meta para estabilização dos mercados europeus.

Como quarto e, possivelmente não o último ponto, o controlo existente da moeda pelo banco central europeu que deixou de ser um mero espectador para passar a ser um agente ativo de influência no mercado europeu, fazendo com que os bancos de cada estado (regionais) perdessem autonomia. Com a transformação digital que se avizinha e outras tecnologias que possam aparecer, o BCE está a posicionar-se para salvaguardar o seu poder. Tem a pretensão de influenciar todo um mercado global, no que diz respeito ao valor a ser atribuído às moedas digitais.

Para finalizar, avizinham-se tempos de mudança.

O paradigma do crédito “naquele banco para toda a vida” já não faz sentido, mas sim estar atento aos ciclos económicos e utilizar as instituições bancárias mais competitivas, a cada momento em nosso benefício.

Os portugueses tiveram uma excelente oportunidade durante o ano 2022 para renegociarem os seus créditos habitação, aproveitarem as taxas de juro baixas mas, como sempre, esperaram para “ver no que vai dar” e não tomaram as decisões em tempo útil…

Sim, deixo só mais esta nota, na Europa 92% do crédito habitação são taxas fixas e em Portugal 94% são taxas variáveis e, claro que quando a economia tem uma pequena variação nós, portugueses, somos os primeiros afetados. Imaginar que as taxas de juro, ao dia de hoje, chegam quase a 4% significa aumentar os custos em mais de 4% ao ano, quer isto dizer que, por cada 100.000€ de dívida, significa mais 4.000€ em juros e que são mais 4.000€ que pagamos e que não se traduzem na amortização do empréstimo.

Deixo-vos esta reflexão para que aprendamos todos que, estar no fio da navalha com a economia não está errado, mas, precisamos do aconselhamento certo, para que a perceção e a reação ao mercado seja ágil e imediata.

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