O Mar aqui tão perto… E afinal, tão longe…
Por Dulce Mota, Banco Montepio
O mar faz parte da história e da cultura de Portugal e costumamos associá-lo a grandes momentos e sucessos. Basta recordar os descobrimentos e o que essa fase da nossa história representou de glória, conquista, coragem, voluntarismo e exemplo.
Hoje, pouco se sabe sobre o valor atual do Mar mas há uma certeza: esse valor é enorme e o seu potencial ainda maior.
O tema não é apenas Nacional e está também a transformar o debate internacional sobre o momento de transformação no desenvolvimento económico com apostas em modelos mais sustentáveis e amigos do ambiente. Seguramente, cada vez mais falaremos na Green Economy mas também na Blue Economy.
A economia azul é bem diversificada quanto aos sectores que abrange principalmente as ligadas a actividades portuárias, construção e reparação naval, offshores de oil, gás e eólicas, turismo costeiro e marítimo, pesca, aquacultura marítima industrial e tantas outras.
O driver na mudança da economia do mar será pela afirmação de uma grande e alargada rede de colaboração de pessoas, inteligência, vontades, investimentos, iniciativas, projectos, planos e acções que juntem o mundo empresarial e o mundo académico da Ciência e da Tecnologia às políticas e incentivos governamentais.
O nosso País é maior em mar do que em terra. Esta área marítima pode e deve ser explorada para as mais diversas atividades da economia do mar.
O posicionamento geográfico de Portugal constitui uma enorme vantagem para o avanço do conhecimento e exploração do potencial do Atlantico, da sua interacção com o Mediterrâneo e ainda do sistema de mar profundo, nomeadamente nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Este pode ser um elemento distintivo para afirmação Europeia do nosso País nas várias vertentes da economia do Mar mas sobretudo no transporte marítimo e respetiva logística.
De acordo com dados recolhidos do INE (insuficiente e pouco atualizados) a economia do mar contribui com 5,1% do PIB, 5% das exportações totais e 4% do emprego. Cresceu em VAB, nos últimos dados conhecidos, 18,5% que compara muito favoravelmente com os 8,5% da economia Nacional, mostrando a sua capacidade de crescimento também muito “empurrada” pelo Turismo.
As oportunidades e os desafios são enormes na descarbonização e transição energética, na transformação dos sectores da aquacultura, na industria da dessalinização e no recreio e no turismo dinamizando as atividades náuticas que podemos disponibilizar com a dimensão da nossa costa.
Os desafios principais são os investimentos em infraestruturas e na renovação dos modelos de negocio ainda muito tradicionais com pouca incorporação de know how cientifico, técnico, digital que podem permitir que a economia do Mar seja verdadeiramente um desígnio Nacional.
O Mar tão perto não pode ser um Mar tão longe.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 204 de Março de 2023