Liderados pelos mais competentes

Por Manuel Lopes da Costa, country managing partner da Bearing Point

Estamos a viver uma época de mudança nas administrações das principais empresas portuguesas. Nos próximos meses, um conjunto muito significativo de empresas cotadas irá alterar a constituição do seu Conselho de Administração.

Recentemente tivemos o caso de duas importantes empresas portuguesas. A TAP que não reconduziu o seu presidente “histórico” Fernando Pinto, a EDP que reconduziu AntónioMexia e reformulou o seu CA com a incorporação de novos elementos internos e externos.

No caso da TAP, o País deverá lembrar-se da situação financeira e operacional da companhia antes da chegada de Fernando Pinto face à situação actual e prestar-lhe o devido reconhecimento pelos resultados que atingiu e pela sua dedicação à companhia. Portugal ganhou muito com a gestão de Fernando Pinto. Podia-se ter feito melhor? Claro, como sempre, mas a verdade é que nos últimos anos a TAP deixou de ser um problema nacional. E isso tem R mérito. No caso da EDP, mais uma vez demonstramos que os nossos gestores, quer com accionistas nacionais quer com accionistas estrangeiros, quando são competentes, quando obtêm boas performances, são reconhecidos e reconduzidos. Gerir a EDP não é coisa para “amadores”, trata-se de uma grande empresa, muito complexa e diversificada com presença mundial. A sua gestão exige muita dedicação, mas igualmente muita competência. Nesse sentido, a recondução de Antonio Mexia é um claro reconhecimento à sua capacidade e à confiança que os accionistas depositam na sua gestão passada e futura.

Em ambos os casos sobressai uma palavra: “Mérito”. E isso é o que deveria sempre nortear a escolha dos elementos que compõem os conselhos de administração. No entanto, recentemente veio a constatar-se a necessidade de se proceder a correcções de género na composição dos vários CA. Trata-se de uma medida totalmente compreensível que tem cabimento se visar acabar com os tabus instituídos e criar uma prática, através de evidências inquestionáveis que de facto o mérito e a competência não têm género. Uma vez estes objectivos alcançados, algo que certamente levará um bom par de anos, deverá ser então reequacionada a continuidade da medida agora introduzida.

Ser administrador executivo “C level” como agora está mais na moda referir” é o sonho a atingir de qualquer aluno universitário de Gestão/Economia, o topo de carreira da maioria dos gestores nacionais. E não faz sentido nenhum que esse topo esteja vedado por género ou por outra qualquer descriminação similar. Mas, cuidado, por muito apelativo que o lugar possa ser, é bom relembrar que o mesmo é complexo, difícil e exige uma grande dose de sacrifício pessoal. Trata-se sobretudo de um lugar da confiança dos accionistas. São eles que elegem os conselhos de administração bem como votam a destituição ou não recondução dos seus membros. E confiança é das coisas mais difíceis de conquistar, pode demorar anos, e das mais fáceis de alienar, basta um segundo.

A adicionar à exigência do cargo, convém relembrar que a profissão de administrador é de enorme volatilidade. Pode ser exonerado em qualquer momento, sem razão de força maior, bastando uma simples “perda de confiança”. Um administrador não tem protecção ao emprego, ao posto de trabalho ou direitos adquiridos. Um dia está-se a trabalhar e no outro é-se exonerado por um montante que já está pré-definido sem direitos adquiridos ou protecção da legislação do trabalho dos demais profissionais.

Por isso, não é uma ocupação fácil. Pode parecer, mas não o é. A escolha deve assim sempre recair nos mais competentes, nos melhores preparados que ao ter sucesso deverão ser reconhecidos e compensados da forma que os accionistas, e não a opinião pública, acreditem que seja a mais adequada. Andar a discutir ou a querer restringir a compensação dos gestores na praça pública, algo que só às empresas e aos seus “donos” diz respeito, é algo tão absurdo como andarmos a discutir o que se come às refeições em casa do nosso vizinho baseados em informações obtidas no talho e na mercearia do bairro.

Se queremos qualidade, ela vem a um preço. “Bom, bonito e barato” já não existe nem na terra do Ali Babá. Os nossos gestores merecem a nossa confiança, merecem que os deixemos trabalhar, e merecem ter a sua vida privada não devassada. São de aplaudir todas as medidas que visam criar as condições para continuarmos a ter os melhores a gerir as nossas empresas, enriquecendo o nosso País, independentemente do seu género.

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro de 2018 da revista Executive Digest.

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