Gerir com responsabilidade no século XXI

No mundo das emrpesas e dos negócios, os gestores enfrentam diariamente novos desafios para os quais têm de desenvolver respostas e soluções.

Por José Galamba, presidente da Associação Portuguesa de Seguradores

A título de exemplo, a utilização de novas tecnologias – vulgarmente designado pelo desafio da digitalização, – quer para a melhoria dos processos associados à cadeia de valor que suportam o negócio, quer para o desenvolvimento de novas formas de comunicação com os consumidores, são alguns dos desafios da gestão de hoje. Vemos também presente em muitas indústrias, o tema regulatório, associado à necessidade de se manter um elevado grau de exigência no cumprimento de uma regulação que é extensa e complexa e em permanente evolução.

E temos ainda presente, tanto hoje como no passado, a questão da melhoria da rentabilidade, um importante desafio sem dúvida, pois só melhorando a rentabilidade é que as empresas conseguirão libertar mais recursos, os quais são fundamentais para seguir investindo e remunerando os investidores.

Não ainda há muitas décadas, chavões como “maximizar resultados”, “foco no retorno para o accionista”, entre outros, eram normas aceites globalmente inseridas nas estratégias de muitas empresas.

O impacto da digitalização da economia em geral e da indústria em particular, através da utilização das novas tecnologias (inteligência artificial, computação quântica, realidade aumentada, analítica de dados, computação na nuvem…) tem trazido um ambiente e desenvolvimento económico sem precedentes, à escala global. Com este desenvolvimento é expectável ambicionar uma prosperidade económica que, no entanto, só é sustentável no longo prazo, se em paralelo caminharmos para um novo paradigma económico, um caminho que nos leve a uma economia de neutralidade carbónica. Isto, porque este desenvolvimento vem com novos riscos ou riscos acrescidos – riscos associados a temas que hoje já debatemos, tais como os recursos naturais finitos, as alterações climáticas, os riscos associados às novas tecnologias, a par de outros riscos sociais que assistimos globalmente, como o crescimento populacional, a migração massiva de zonas rurais para zonas urbanas, a existência de consumidores e investidores mais informados e, por isso, mais exigentes.

Só a título de exemplo de um desses riscos, a evidência científica relativamente à evolução do clima, está aí para nos mostrar que o sistema económico dominante, baseado numa economia linear, não é sustentável. As alterações climáticas são hoje um risco sistémico para muitas indústrias e regiões e foi esse reconhecimento que foi conseguido com o Acordo de Paris, no qual se identifica os impactos futuros que as alterações do clima irão trazer às gerações futuras.

Para caminharmos nesse grande objectivo – o de uma economia circular e de partilha, neutra em termos do carbono, – não bastam as necessárias políticas públicas; é também necessária a participação da sociedade no seu todo. E aqui é absolutamente crítico o trabalho dos gestores no sentido de incorporar nos modelos de negócio empresariais uma muito maior reutilização de recursos, apostando na chamada “economia circular” e em investimentos em infraestruturas sustentáveis que permitam efectuar a necessária transição energética, das energias fósseis para energias limpas.

E o que os recentes estudos demonstram é que esta caminhada relacionada com a descarbonização da economia e melhor reutilização de recursos é uma oportunidade única para se reinventar negócios, produtos e serviços, para a qual somos todos chamados a contribuir enquanto gestores.

Assim sendo, o tema sustentabilidade entrou no léxico do mundo da gestão no século XXI, também por exigência da própria sociedade em geral e, nesse sentido, a sustentabilidade das empresas e respectivos modelos de negócio adquiriram mais recentemente uma nova dinâmica. Para além da sempre importante vertente económica, passámos a ouvir falar em critérios ESG (Environmental, Social and Governance) ou seja critérios ambientais, sociais e de bom governo das sociedades nas decisões de investimento. Esta é uma realidade já incontornável no mundo dos investimentos, e que começa agora a fazer o seu caminho no mundo da gestão (muito pela força de investidores, nomeadamente grandes investidores institucionais e grandes gestoras de activos) no desenvolvimento de compromissos e estratégias em termos do seu nível de desempenho em sustentabilidade.

Incontornavelmente, factores ambientais (como a pegada de uma empresa ou gestão ambiental de recursos, políticas antipoluição…), factores sociais (como direitos das pessoas, segurança no trabalho, diversidade, contribuição para a sociedade em que se insere, entre outros) e de boa governação (transparência ou independência dos órgãos sociais) em complementaridade à análise financeira tradicional (baseada em fluxos de caixa ou valor contabilístico), darão contribuições decisivas para o propósito da empresa enquanto agente económico numa sociedade mais humanista.

Uma boa ferramenta ou referencial para a gestão é a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável, que inclui os 17 objectivos abordando várias dimensões do desenvolvimento sustentável (económico, social, ambiental). Esta agenda é já hoje utilizada por diversas empresas nas mais variadas indústrias, como um enquadramento global para a definição e desenvolvimento de estratégias corporativas, através da identificação do conjunto de objectivos mais valorizados pelos vários stakeholders – clientes, colaboradores, fornecedores, accionistas e a sociedade em geral.

Assistimos a uma mudança de paradigma nos modelos de desenvolvimento económico da nossa sociedade que obrigam ao mundo da gestão olhar para novos referenciais, e que obriguem a incorporar novos critérios e objectivos na sua tomada de decisões alinhados com os três grandes KPI dos gestores do século XXI: performance, propósito e pessoas. Estamos preparados para estes novos tempos?

Este artigo foi publicado na edição de Julho de 2019 da Executive Digest.

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