A era das pessoas

Por Jorge Magalhães Correia
Presidente da Fidelidade e da Luz Saúde

Direi, desde logo, que 2020 antecipa-se como sendo um ano exigente para o sector segurador europeu. Se, por um lado, podemos encontrar razões para continuar a ter confiança na evolução da Economia, por outro lado acreditamos que esta confiança não se traduzirá em metas ambiciosas de crescimento para grande parte das seguradoras.

Para as empresas mais maduras, as expectativas de crescimento da receita são moderadas, sendo certo, todavia, que este factor já não pode ser considerado como medida de sucesso na era digital. O sector segurador irá concentrar-se na melhoraria dos seus indicadores de eficiência e de rentabilidade operacional, visto que, na Europa, o retorno dos investimentos, tendo presente a estrutura típica das carteiras de activos das seguradoras, continuará a ser muito afectado pelas baixas taxas de juro. Este novo ambiente macroeconómico, a evolução da tecnologia e a dinâmica competitiva, levam os principais operadores, neles se incluindo o Grupo Fidelidade (aliás, de há vários anos a esta parte), a olhar para diferentes modelos de negócios, procurando novos métodos de crescimento inorgânicos, procurando construir cadeias de valor integrando serviços adjacentes aos seguros, fomentando alianças estratégicas e robustecendo parcerias com terceiros.

A necessidade de um posicionamento estratégico mais colaborativo requer, naturalmente, competências de gestão diferentes. É agora necessário que as partes se sentem à mesa com um espírito de parceria, definindo o que cada um pode aportar ao projecto e como fazê-lo, dedicando mais tempo para discutir ambição e menos tempo à discussão do preço.

No caso português os desafios não são substancialmente diferentes, embora com tonalidades específicas. Entre os desafios principais, destacaria o financiamento das necessidades existenciais de longo prazo através da poupança, em particular das pensões de reforma e dos cuidados de saúde, por forma a assegurar níveis sustentáveis de bem-estar na sociedade portuguesa – sendo este, por consequência, também um dos principais desafios para o sector segurador.

Sem praticamente incentivos para a poupança, num País envelhecido, com uma taxa de aforro claramente insuficiente, o sector segurador terá de ser capaz de encontrar soluções inovadoras que permitam inverter esta situação. Algumas condições de base têm evoluído favoravelmente. É o caso do novo tecido empresarial que está a emergir em Portugal, melhor preparado para competir com os seus pares da Europa, mais ciente do valor do seu capital humano e que está em condições de jogar um papel muito importante na formação de aforro para a reforma. Também a “distribuição de Seguros”, cada vez melhor apetrechada para assessorar as Pequenas e Médias Empresas, poderá desempenhar um papel de relevo na criação deste pilar. Lamentavelmente, as condições que se prendem com a existência de mecanismos institucionais e legais de estímulo à poupança praticamente não evoluíram.

Do lado do Grupo Fidelidade, existe um esforço acrescido para apresentar, em 2020, novos produtos e soluções integradas que respondam àquelas necessidades, procurando aproveitar as oportunidades trazidas pela convergência dos nossos interesses na área hospitalar e dos seguros de Saúde, por forma a beneficiar estratos cada vez mais amplos e carenciados da população. E procurando, igualmente, tirar partido das novas e mais sofisticadas tecnologias, onde temos obtido avanços significativos em diversos processos de robotização, na utilização de algoritmos inteligentes, na disponibilização de aplicações mobile.

Mas, se é certo que temos de estar na vanguarda da evolução tecnológica, com vista a que os nossos clientes usufruam das suas enormes vantagens, queremos igualmente continuar a acentuar e a dar expressão efectiva aos nossos valores humanistas. Cedo ou tarde, todas as seguradoras terão acesso às mesmas tecnologias e, portanto, não será a tecnologia o factor essencial de diferenciação competitiva das empresas no futuro.

Na Fidelidade, continuamos a acreditar que a era digital não é, apenas, a era de tecnologia. É a era do talento e da criatividade. A era digital é a era das pessoas, em todas as suas dimensões. E este, sim, deverá ser o verdadeiro factor de diferenciação e de sucesso da Fidelidade para 2020 e para a próxima década.

Artigo publicado na Revista Marketeer n.º 166 de Janeiro de 2020

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