O Silêncio Sai Caro: como as polémicas ESG se agravam quando a liderança se cala

Por Tiago Cruz GonçalvesProfessor de Finanças do ISEG, Universidade de Lisboa

As polémicas ambientais, sociais e de governação (ESG) marcam o instante em que promessas de sustentabilidade colidem com acontecimentos incómodos. Podem ir de um depósito de resíduos a verter lentamente a uma denúncia de assédio no topo da hierarquia, mas partilham o mesmo efeito: enfraquecem a narrativa de responsabilidade empresarial precisamente quando os investidores, trabalhadores e reguladores já refletem essa narrativa no custo do capital, na atração de talento e na licença para operar. Dado que as métricas ESG evoluíram de meros complementos bem-intencionados para fatores de risco materiais acompanhados por credores e fornecedores de índices ESG, qualquer indício de má conduta não resolvida propaga-se pelos mercados com rapidez.

Os números concretos confirmam a penalização. Numa amostra transversal de controvérsias graves na Europa, os preços das ações caíram, em média, 9% nos dez primeiros dias de negociação e continuaram a ficar aquém dos pares durante um ano. No mercado de dívida o castigo é idêntico: emissores envolvidos em polémicas ESG suportam spreads consistentemente mais amplos, sobretudo quando a informação é escassa, pagando aquilo que a literatura designa por “prémio de controvérsia”. O custo da omissão acumula‑se como o juro em regime composto.

A investigação comportamental ajuda a explicar porque o instinto de negar ou adiar a assunção dos acontecimentos é tão dispendiosa. As experiências sobre a reparação da confiança revelam que, quando uma quebra diz respeito à integridade, a negação pode proporcionar apenas um alívio fugaz. Assim que surgem evidências que a contrariam, a confiança colapsa para níveis inferiores aos anteriores à negação. Em contraste, as falhas de competência recuperam melhor após um pedido de desculpas precoce que sinalize uma intenção de aprender. Um estudo subsequente que testou a reticência – não dizer nada até que os factos estejam mais claros – concluiu que esta produz a menor confiança pós-crise de todas, porque o público interpreta o vazio como uma retenção estratégica de informação. O silêncio não é, portanto, neutro. É um amplificador ativo da suspeita.

Nos últimos anos, muitas empresas tentaram contornar o problema através do denominado greenhushing, reduzindo a comunicação sobre metas climáticas para evitar acusações de greenwashing. O Net‑Zero Report da South Pole, que inquiriu 1 400 multinacionais, revela que 58 % pondera falar menos sobre o tema. O próprio relatório adverte, porém, que uma divulgação comedida apenas adia o escrutínio, deixando a organização mais exposta quando as discrepâncias vierem a público. Desligar o detetor de fumo não apaga o incêndio.

Os dados também mostram que as empresas que entram numa crise com relatórios ESG detalhados e verificados por terceiros sofrem choques de avaliação menores e recuperam mais rapidamente do que os seus pares que divulgam apenas as métricas mínimas exigidas. Mecanismos de governação robustos moderam o impacto negativo das controvérsias na performance da empresa, atuando eficazmente como uma reserva de credibilidade.

A investigação científica demonstra, ainda, que os mercados precificam a dinâmica das más notícias: empresas que mantêm os investidores, as agências de rating ESG e os colaboradores informados reduzem a duração do pessimismo, enquanto as que se fecham sobre si próprias prolongam o desempenho inferior. Atualizações regulares, fundamentadas em dados, retiram força aos rumores e impedem que um incidente isolado passe a definir toda a narrativa. Quando a crise eclode, o diálogo contínuo pode gerar dividendos.

A lição para o conselho de administração é clara: as polémicas ESG raramente irrompem devido a um erro isolado. Antes, eclodem quando a liderança o desvaloriza. Os mercados convertem dúvidas não esclarecidas em taxas de desconto mais elevadas, e a psicologia da confiança explica por que razão respostas tardias raramente recuperam o terreno perdido. Numa época em que capital, talento e regulação convergem sobre a credibilidade da sustentabilidade, a transparência deixa de ser um mero adorno reputacional e torna-se um ativo estratégico – um ativo que ganha valor precisamente quando a incerteza atinge o seu auge.